Tradicionalmente o processo de industrialização brasileira até meados dos anos de 1980

Teorias sobre a industrializa��o brasileira

Armen Mamigonian

Departamento de Geografia da USP

I - Teorias sobre a industrializa��o brasileira e latino-americana

A industrializa��o brasileira � tema de debate da nossa intelectualidade desde as d�cadas de 20 e 30. O. Brand�o publicou Agrarismo e Industrialismo em 1926[1] e R. Simonsen divulgou em 1939 a primeira hist�ria da industrializa��o brasileira[2]. Nos dois casos trataram-se de intelectuais engajados, o primeiro, dirigente comunista e o segundo, l�der industrial, ambos defensores da industrializa��o, numa �poca em que se considerava o Brasil como �pa�s essencialmente agr�cola� e cuja industrializa��o sofria grandes resist�ncias dos setores ligados � divis�o internacional do trabalho, interna e externamente. Assim, precocemente as esquerdas brasileiras tornaram-se, junto com a burguesia industrial, defensoras do processo de industrializa��o.

������� A industrializa��o brasileira recebeu um cap�tulo na Hist�ria Econ�mica do Brasil, de C. Prado Jr., publicado em 1945[3] e mais tarde mereceu interpreta��es mais aprofundadas nos escritos de dois economistas ligados aos �rg�os de planejamento governamentais. I. Rangel e C. Furtado[4], publicados na d�cada de 50. Paradoxalmente, o tema da industrializa��o s� despertou o interesse dos professores universit�rios ap�s a publica��o de Forma��o Econ�mica do Brasil, de C. Furtado, quando o Departamento de Sociologia da USP entrou no debate, sobretudo F.H. Cardoso e O. Ianni[5]. No fundo, at� ent�o, a universidade n�o julgava a tem�tica relevante, pois n�o percebia as dimens�es econ�mico-sociais e pol�ticas que o processo de industrializa��o j� alcan�ava. O debate que se seguiu, com a participa��o de numerosos pesquisadores universit�rios brasileiros e estrangeiros, iria demonstrar o car�ter controvertido das interpreta��es, tais como: 1) as conjunturas de crise das exporta��es (guerras mundiais, crise de 1929 etc.) tinham sido favor�veis ou desfavor�veis ao avan�o industrial?, 2) a condi��o de periferia do sistema mundial capitalista bloqueava ou n�o a industrializa��o? 3) a que classes sociais couberam as primeiras iniciativas industriais: aos fazendeiros, aos comerciantes de export-import, � pequena burguesia e outros setores populares? etc. Paralelamente, a quest�o da industrializa��o havia chegado na �poca ao pr�prio �mbito popular, onde tamb�m se veiculavam opini�es divergentes: a industrializa��o havia come�ado com Volta Redonda ou com a implanta��o das usinas hidrel�trica da Light? A ind�stria brasileira era multinacional? Etc. Desde ent�o o avan�o industrial brasileiro foi consider�vel, assim como se fez um longo percurso intelectual, que provocou alguns esclarecimentos, mais ainda hoje as interpreta��es continuam contrastantes, pois refletem as vincula��es entre elas e as classes sociais interessadas no processo.

������� Nas esquerdas brasileiras tr�s teorias referentes � economia brasileira em geral e � industrializa��o em particular, tiveram papel hegem�nico na luta intelectual, sucessivamente: 1) a teoria da CEPAL, que popularizou a express�o �industrializa��o por substitui��o de importa��o�, dominou o ambiente cultural de 1955 a 1964, 2) a teoria da depend�ncia, que teve grande aceita��o no per�odo seguinte ao golpe militar, enfatizou a subordina��o da industrializa��o aos interesses do centro do sistema capitalista, 3) a teoria dos ciclos econ�micos, com grande aceita��o recente, reconhece o enorme dinamismo do processo de acumula��o capitalista brasileiro.

1. As id�ias da Cepal

������� As id�ias da Cepal (Comiss�o Econ�mica para a Am�rica Latina � ONU) foram fortemente hegem�nicas nas esquerdas brasileiras, e mesmo latino-americanas, dos fins da d�cada de 50 at� meados de 60. Elas surgiram fortemente ligadas ao processos de industrializa��o e aos problemas decorrentes, pois desde fins do s�culo XIX grandes ind�strias foram se instalando em todas as cidades portu�rias brasileiras, desde Bel�m do Par� e S�o Lu�s do Maranh�o at� o porto do Rio Grande, criando uma nova realidade no interior da economia agroexportadora, sendo que o mesmo acontecia em quase toda a Am�rica Latina, como na Argentina, no M�xico, na Col�mbia etc.

������� No Brasil, R. Simonsen destacou a conjuntura da Primeira Guerra Mundial e da crise de 1929 como favor�vel � industrializa��o, em vista da incapacidade de importa��o do Brasil, inaugurando entre n�s a vis�o de uma industrializa��o que se impulsionava nos momentos de crise das rela��es centro/periferia, substituindo importa��es tornadas problem�ticas pela queda das nossas exporta��es[6]. R. Simonsen foi tamb�m o primeiro a chamar a aten��o para a necessidade do planejamento governamental como instrumento de acelera��o da industrializa��o, combatendo as concep��es antiintervencionistas de E. Gudin, para quem as vantagens comparativas internacionais ligadas �s exporta��es agr�colas eram as que mais interessavam ao Brasil, nos moldes da pol�tica econ�mica da Velha Rep�blica[7].

������� Independentemente de R. Simonsen, na Argentina R. Prebisch analisou as rela��es comerciais entre Am�rica Latina e os pa�ses do centro do sistema capitalista desde o s�culo XIX at� ap�s a Segunda Guerra Mundial, concluindo que os pre�os dos produtos prim�rios exportados tinham a tend�ncia a sofrer uma queda em rela��o aos produtos industriais importados, que significava uma tend�ncia ao empobrecimento. A corre��o das tend�ncias dependia da ruptura da divis�o internacional do trabalho, via industrializa��o dirigida pelo Estado[8]. A deteriora��o dos termos de interc�mbio entre a Am�rica Latina e os centros din�micos capitalistas, segundo Prebisch, resultava da diferen�a de comportamento da demanda de produtos prim�rios em rela��o � demanda de manufaturados, pois 1) a eleva��o da renda popular no centro n�o podia significar aumento proporcional de consumo de alimentos importados e 2) as mat�rias-primas compunham em menor propor��o os produtos industrializados em vista do avan�o tecnol�gico e do uso de sint�ticos. Al�m disso, a abund�ncia de m�o-de-obra na periferia levava a tend�ncia � queda dos sal�rios e assim dos pre�os dos produtos prim�rios, diferentemente da escassez da m�o-de-obra no centro, que provoca aumento dos custos e eleva��o dos pre�os dos manufaturados. Assim, o fosso entre centro e periferia tendia a aumentar e sem interven��o estatal o processo era irrevers�vel. Mas Prebisch, como os cepalinos em geral, n�o levava na devida conta o imenso avan�o industrial que j� estava em processo na Am�rica Latina, pois na Argentina j� em 1929 o setor industrial alcan�ava 22,8% do PIB e atingia 14,2% no M�xico e 11,7% no Brasil[9].

������� A industrializa��o como processo de substitui��o � a tese central da Cepal, que parte dos obst�culos externos ao desenvolvimento. Como R. Simonsen e R. Prebisch haviam assinalado, a queda na capacidade de importa��o da economia, decorrente da permanente dificuldade cambial e das crises do com�rcio internacional estimulava a produ��o industrial interna, que punha em a��o um mecanismo circular, pelo qual toda nova etapa na substitui��o de importa��es implicava aumento das necessidades de novas importa��es superior ao crescimento da capacidade de importa��o, levando a um disp�ndio de divisas superior � economia realizada, agravando o d�ficit externo, o que reincentivava o processo de substitui��o, conforme o esquema de G. Mathias[10]:

Tradicionalmente o processo de industrialização brasileira até meados dos anos de 1980

����������� Tais obst�culos externos constituem tamb�m est�mulos ao desenvolvimento industrial, como j� foi assinalado, e al�m disso o avan�o industrial era vis�vel desde antes de 1930. Ainda assim, a queda dos termos de interc�mbio entre centro e periferia significava empobrecimento crescente, pois o excedente econ�mico criado na periferia acabava sendo transferido, na sua maior parte, para o centro pelos mecanismos de troca internacional, e o que restava na periferia, segundo a Cepal, absorvido improdutivamente pelas classes dominantes e m�dias perdul�rias, em gastos ostentat�rios. Percebe-se, assim, o car�ter estagnacionista do racioc�nio cepalino: 1) o com�rcio internacional era desfavor�vel, 2) o excedente econ�mico era, assim, absorvido em maior parte pelo exterior, 3) o excedente econ�mico que permanecia na periferia era desperdi�ado[11]. Agravando o racioc�nio cepalino estagnacionista, havia tamb�m obst�culos internos, como 1) a concentra��o de rendas muito grande, e assim o mercado consumidor era limitado para absorver a produ��o industrial, 2) a tecnologia importada, dado o avan�o do centro, era de dimens�es superiores �s possibilidades do mercado, gerando unidades de grande porte, com capacidade ociosa, provocando custos elevados, al�m de que n�o absorvia m�o-de-obra, restringindo ainda mais o mercado consumidor e exigindo, assim, corre��es no sentido de tecnologias mais modestas, compat�veis com as necessidades de industrializa��o perif�rica, 3) tend�ncias � importa��o de modelos de consumo em conseq��ncia da concentra��o de rendas, provocando a produ��o precoce de artigos de luxo e o desperd�cio do excedente econ�mico, 4) o excedente sendo insuficiente, pela sua absor��o externa e desperd�cio interno, havia necessidade de apelar para as poupan�as externas, sob forma de empr�stimos banc�rios ou invers�es diretas.

������� A Cepal apontava como medidas corretivas dos bloqueios a ado��o de reformas estruturais levadas a efeito pelo Estado, principalmente a reforma agr�ria, pois a concentra��o de terra provocava restri��es insuper�veis ao mercado interno, impedindo o avan�o industrial, al�m de que a agricultura latifundi�ria trabalhava com t�cnicas primitivas, gerando baixa produtividade e insufici�ncia de alimentos e mat�rias-primas nas cidades, e assim eleva��o dos custos industriais. A transfer�ncia de m�o-de-obra da agricultura para a ind�stria provocaria automaticamente, na vis�o da Cepal, distribui��o de renda, decorrente do aumento de produtividade, e a reforma agr�ria ampliaria o mercado interno, atendendo �s necessidades do avan�o da industrializa��o.

������� Os estudos emp�ricos de R. Simonsen e C. Furtado[12] enfatizaram a import�ncia da introdu��o do trabalho livre na economia cafeeira, com a aboli��o da escravatura. Enquanto prevaleceu o trabalho escravo, as necessidades de consumo das fazendas de caf� foram atendidas pelas atividades de subsist�ncia realizadas nas horas deixadas vagas pela cultura de exporta��o, ou pelas importa��es, que abasteciam o consumo dos fazendeiros. A m�o-de-obra livre foi usada para atender exclusivamente � lavoura de caf� e era remunerada com dinheiro, o que permitia adquirir alimentos e produtos industriais. Os lucros da produ��o cafeeira se transferiam para as atividades industriais por interm�dio do sistema banc�rio. Com o tempo as atividades industriais acabaram gestando um centro din�mico na economia brasileira.

2. A teoria da depend�ncia

������� No tempo em que a teoria da Cepal foi hegem�nica nas esquerdas brasileiras (1955-64), houve bom entrosamento entre suas id�ias e as do PCB. Formou-se uma verdadeira frente �nica entre as interpreta��es dos industriais e dos comunistas, como precocemente O. Brand�o e R. Simonsen demonstraram, ao combater a id�ia do Brasil �pa�s essencialmente agr�cola�, que servia aos interesses agroexportadores[13]. Segundo o PCB o latif�ndio feudal dominante produzia g�neros de exporta��o, que interessavam aos pa�ses centrais, respons�veis pelo abastecimento do pa�s em produtos industrializados, prejudicando a incipiente industrializa��o, que tamb�m era bloqueada pela pobreza da popula��o rural, sem poder aquisitivo. O imperialismo controlava as finan�as e o com�rcio de exporta��o, funcionando como uma bomba da suc��o, carreando as riquezas nacionais para o exterior. O PCB se aproximava da Cepal pela vis�o estagnacionista, por admitir invers�es industriais estrangeiras, desde que n�o norte-americanas e pela defesa das reformas de base, no in�cio da d�cada de 60, como indispens�veis � continuidade da industrializa��o.

������� Se as coloca��es de C. Furtado e da Cepal conseguiram aliados, sobretudo nas id�ias do PCB sobre a industrializa��o brasileira, criaram tamb�m advers�rios. C. Furtado foi criticado por n�o ter desenvolvido empiricamente seu modelo explicativo, deixando de se referir mais explicitamente aos fatores sociais respons�veis pela cria��o do mercado interno e pela g�nese dos capitais invertidos na industrializa��o, al�m de ter se restringido basicamente � an�lise da industrializa��o no interior da economia cafeeira, n�o dando aten��o ao processo no conjunto brasileiro.

������� A aus�ncia de refer�ncia � origem dos empres�rios nas an�lises de R. Simonsen e C. Furtado na verdade estava vinculada � necessidade de n�o ofender a poderosa oligarquia agr�ria, que divulgava a id�ia de seu pr�prio papel diretor na implanta��o da atividade industrial. No entanto, autores marxistas como C. Prado Jr. e L. Basbaum[14], entre outros, j� haviam assinalado o papel fundamental dos imigrantes como os principais respons�veis pela g�nese da industrializa��o brasileira. Por outro lado, F.H. Cardoso e O. Ianni[15] vincularam a cria��o do mercado interno aos est�mulos da especializa��o provocados nas fazendas durante as conjunturas de valoriza��o dos g�neros de exporta��o, que permitiam a produ��o por terceiros dos alimentos e produtos industriais. E nessas ocasi�es, quando as atividades das fazendas de caf� tornavam-se muito lucrativas, geravam excedentes aplic�veis em outras atividades (estradas de ferro, ind�strias, etc.), tese que posteriormente foi defendida por v�rios pesquisadores.

������� Estas formula��es visavam diminuir as interpreta��es que enfatizavam a import�ncia dos imigrantes e assim combater a id�ia do self-made-man, t�o antip�tica � esquerda. Nesta dire��o W. Dean foi mais longe, insistindo no papel dirigente dos fazendeiros de caf�, que teriam conduzido a economia brasileira da agroexporta��o ao sistema industrial existente em meados do s�culo XX, al�m de relacionar os avan�os da industrializa��o com as �pocas de prosperidade da economia cafeeira, criticando R. Simonsen e C. Furtado, que vinculavam a industrializa��o �s crises do com�rcio exterior. Assim, j� que o pa�s n�o era mais �essencialmente agr�cola�, os ide�logos da agroexporta��o trataram de se apropriar da industrializa��o[16], como ap�s 1964 iriam se apropriar da id�ia da necessidade de intervencionismo estatal.

������� Com o golpe militar de 1964, as diverg�ncias no interior do bloco Cepal-PCB acabaram aflorando, dando origem � teoria da depend�ncia, hegem�nica nas esquerdas durante a segunda metade dos anos 60 e primeira dos anos 70. Logo ap�s o golpe, C. Furtado via o Brasil como um �pa�s sem futuro� e estagnado, pela paralisa��o dos investimentos industriais, pela pecuariza��o do campo etc.[17]. Os dependentistas reinterpretavam a hist�ria e analisavam a conjuntura econ�mico-pol�tica de uma nova maneira. Assim, os arca�smos feudais apontados pela Cepal nada mais eram do que manifesta��es do subdesenvolvimento capitalista, pois o Brasil, como toda a Am�rica Latina, era visto como fruto da expans�o capitalista da Europa, tendo sido capitalista desde seus in�cios[18]. Em 1966-67 para C. Furtado o Brasil n�o tinha futuro, enquanto para os dependentistas n�o tinha passado.

������� Os dependentistas reconheciam que havia ocorrido na d�cada de 50 um grande avan�o na industrializa��o brasileira, diferenciando-se da an�lise Cepal-PCB, mas que isto se devia � maior depend�ncia e atrelamento � economia mundial capitalista, sobretudo pela presen�a maci�a das multinacionais no setor industrial. A burguesia nacional abdicara de sua independ�ncia, a industrializa��o tinha deixado de ser um processo aut�nomo para ser associado, num trip� constitu�do pelas multinacionais, estatais e privadas nacionais, como no caso da ind�stria automobil�stica, onde as estatais se encarregavam das chapas de a�o, as privadas nacionais eram fornecedoras das autope�as e as multinacionais eram montadoras e detinham a lideran�a[19].

������� Mas a industrializa��o havia criado mais problemas do que os existentes anteriormente, pois com um ex�rcito industrial de reserva numeroso e o uso de tecnologia sofisticada importada, a cria��o de empregos tinha sido pequena, a produtividade havia aumentado e os sal�rios haviam ca�do, ocorrendo uma superexplora��o do trabalho e lucros extraordin�rios, situa��o que exigia a presen�a de ditaduras militares colonial-facistas. A depend�ncia, que se tornou crescentemente interna � economia brasileira, se manifestava agora pelo crescimento das remessas de lucros e royalties, pagamento dos empr�stimos externos etc., n�o dando margem � apropria��o interna do excedente econ�mico. Al�m disso, com a contra��o do mercado interno a economia entrava em profunda crise, caracterizada como crise no processo de substitui��o de importa��es, pois as substitui��es �f�ceis� j� haviam sido realizadas. A solu��o encontrada havia sido a exporta��o de produtos industriais, passando o Brasil a ser um pa�s sul-imperialista na Am�rica Latina[20].

������� Estabelecia-se uma nova divis�o internacional do trabalho, n�o mais de oposi��o na��es perif�ricas (produtos prim�rios) � na��es centrais (produtos industrializados). Pa�ses como o Brasil eram chamados a exportar bens de consumo industriais (t�xteis, cal�ados etc.) aos pa�ses centrais, numa alian�a de classe dominantes do centro e da periferia, pois essas exporta��es contribu�am para baratear a reprodu��o da for�a de trabalho no centro e, por outro lado, mantinha-se intacto o monop�lio de centro na produ��o de bens de equipamento, que exigia grandes invers�es em pesquisas, inalcan��vel na periferia. Assim, a depend�ncia se manifestava tamb�m por uma estrutura econ�mica de desequil�brios setoriais, faltando o departamento de bens de equipamento, situado no exterior. O crescimento da economia brasileira s� ocorreria quando a divis�o internacional do trabalho favorecesse sua articula��o no interior do sistema capitalista mundial[21].

������� Apesar das aparentes diferen�as, a teoria da depend�ncia era uma extens�o da vis�o cepalina � nova realidade da industrializa��o brasileira e do regime militar de 1964. Na sua an�lise, o excedente econ�mico era transferido para o exterior n�o apenas pelos mecanismos comerciais, mas pela remessa de lucros e royalties, pagamento dos empr�stimos etc.; o acesso � tecnologia de ponta era imposs�vel e o mercado interno estava comprimido, e assim o avan�o a novos n�veis estava bloqueado. A teoria da depend�ncia permanecia estagnacionista, num novo patamar, o do modelo �semi-industrializado� e articulado mundialmente como subimperialismo[22]. Era como se o Brasil tivesse passado de uma situa��o est�tica (pa�s agr�cola), por processos n�o muito claros, para uma nova situa��o est�tica (pa�s semi-industrializado), da qual n�o tinha como sair.

������� Os dependentistas foram uma dissid�ncia no seio da intelectualidade de esquerda antes ligada ao modelo Cepal-PCB. Essa dissid�ncia ocorreu em toda a Am�rica Latina, como tamb�m entre os intelectuais de esquerda do centro do sistema, entre economistas (A.G. Frank), soci�logos (I. Wallerstein), ge�grafos (Y. Lacoste) etc. Na Am�rica Latina essa dissid�ncia era sobretudo pol�tica nas suas motiva��es e visava refuncionalizar os PC. Partindo da id�ia de que n�o havia condi��es de crescimento econ�mico sob o capitalismo, apontava somente duas perspectivas poss�veis: fascismo ou socialismo, e, assim sendo, a teoria da depend�ncia funcionou como justificativa �s guerrilhas, j� que o capitalismo na periferia, como para a Cepal, n�o tinha futuro[23].

3. Os ciclos de acumula��o

������� Assim como a teoria da Cepal entrou em crise com o golpe militar de 1964, que desvendou as fraquezas desse modelo interpretativo, a teoria da depend�ncia come�ou a entrar em crise em meados de d�cada de 70, quando a contesta��o armada ao regime militar foi minguando e o �milagre� econ�mico comprovou a for�a do dinamismo industrial brasileiro e o governo Geisel p�s a economia em marcha for�ada para a nova substitui��o de importa��es, dos insumos b�sicos e dos bens de equipamentos pesados[24]. Os dados econ�micos mundiais, diferentemente das vis�es estagnacionistas, indicaram o extremo dinamismo da economia brasileira: de 14� PIB do mundo capitalista em 1965 (US$ 19 bilh�es), ela ascendeu � condi��o de oitavo em 1984 (US$ 187 bilh�es), registrando um crescimento de dez vezes, somente inferior ao do Jap�o (treze vezes) no centro do sistema, tendo nesse per�odo ultrapassando Holanda, M�xico, Su�cia, Espanha, Austr�lia e �ndia[25].

������� Nestas circunst�ncias foram sendo retomadas as id�ias de I. Rangel, lan�adas na d�cada de 50, que constitu�ram a primeira vis�o te�rica cr�tica ao modelo cepalino e por isso mesmo tinham que ser ocultadas pela maci�a propaganda das id�ias da alian�a Cepal-PCB, dominantes na �poca[26]. Rangel destoava ao duvidar que o imperialismo fosse intr�nseca e universalmente hostil ao desenvolvimento das for�as produtivas nos pa�ses dependentes e que o capitalismo nacional fosse necessariamente favor�vel e apresentava uma teoria do capitalismo contempor�neo e suas especificidades no Brasil, inclusive as articula��es de modos de produ��o a n�vel nacional e internacional[27], ausente nas formula��es cepalinas e empobrecidas nos dependentistas. Assim, para os cepalinos e dependentistas a crise econ�mica de 1962-67 constitu�a um �fechamento� do mercado interno e uma crise definitiva do modelo de substitui��o de importa��es, quando n�o passava de uma crise c�clica. Rangel partia da quest�o capital: por que se desenvolve o Brasil enquanto os cepalinos preferiam se perguntar por que o Brasil estava t�o atrasado em rela��o ao centro do sistema.

������� Rangel foi o primeiro a assinalar, seguido mais de perto por P. Singer e F. Oliveira[28], que a industrializa��o deu origem a um vigoroso modo de produ��o capitalista no interior da economia agroexportadora com forte setor natural, que desde a d�cada de 20 gerava seus pr�prios ciclos m�dios, com fase expansiva seguida de fase recessiva. Tais ciclos levavam � expans�o industrial dos investimentos, que se tornam ociosos nos momentos de insufici�ncia do consumo. A capacidade ociosa rec�m-instalada constitu�a poupan�a potencial, que podia dispensar a poupan�a externa para a retomada do desenvolvimento econ�mico no ciclo seguinte. O capitalismo brasileiro estava em condi��es de se expandir internamente mesmo quando eram desfavor�veis as rela��es externas, como ficou evidente na d�cada de 30.

������� O ponto de partida do esquema explicativo de Rangel foi a constata��o de que o sistema mundial capitalista vive fases de expans�o e fases de depress�o, isto �, cresce em ciclos de longa dura��o (ou Kondratieff de cinq�enta anos) e os m�dios (juglarianos de dez anos). Nas fases de expans�o dos ciclos longos o centro do sistema tem necessidade de mais mat�rias-primas, alimentos e mercados consumidores da periferia, tendo interesse em aprofundar a divis�o internacional do trabalho, incorporando novos territ�rios e realizando mais investimentos, tanto no centro como na periferia. Nas fases de depress�o dos ciclos longos, diminuindo o ritmo econ�mico do centro do sistema, vai ocorrendo contra��o das quantidades e dos pre�os das mat�rias-primas e alimentos produzidos na periferia. Como os recursos em uso na periferia estavam voltados em parte ao atendimento do com�rcio internacional, sob formas de terras, trabalhadores e capitais, eles entravam em ociosidade parcial nessas fases depressivas, for�ando a procura de utiliza��es rent�veis, elevando a economia de alguns pa�ses perif�ricos a se concentrarem na produ��o de artigos tradicionalmente importados[29].

������� Na fase depressiva do primeiro Kondratieff (1815-48), diante da contra��o do com�rcio internacional, os fazendeiros passavam a usar parte de suas terras e escravos na produ��o de subsist�ncia, como no caso dos tecidos grosseiros para uso interno dos latif�ndios, assim como na fase depressiva seguinte (1873-96), a substitui��o de importa��es adquiriu o car�ter de pequena produ��o mercantil nas oficinas de reparos trabalhadas por �negros de ganho�, que se multiplicaram nas cidades brasileiras e de algumas grandes f�bricas de tecidos. Esta industrializa��o nascente desde 1880 continuou a crescer nas fases de expans�o do com�rcio internacional (1896-1921), pois o Brasil reagia positivamente aos est�mulos do centro e tamb�m j� contava desde os fins do s�culo XIX com tarifas destinadas a atender �s necessidades fiscais do Estado brasileiro, que funcionavam como barreiras protecionistas. Assim, � irrelevante, at� certo ponto, a discuss�o acad�mica sobre se a industrializa��o foi mais r�pida com a expans�o ou contra��o do com�rcio internacional, j� que nas duas conjunturas o processo industrial avan�ou[30].

������� � medida que avan�ava, a industrializa��o ia gerando um centro din�mico interno, que na d�cada de 20 j� era consider�vel, pois a ind�stria, principalmente o ramo t�xtil, era o setor mais importante da economia brasileira ap�s o caf�. Criava-se um setor industrial, que passava a ter seu pr�prio dinamismo, que se manifestava nos ciclos juglarianos brasileiros. Cada ciclo m�dio correspondeu a um degrau na escada da substitui��o de importa��es: ind�stria de bens de consumo simples, ind�strias de materiais de constru��o, ind�stria de bens de consumo dur�veis e ind�strias qu�micas e mec�nicas pesadas. Isto explica por que a limita��o do mercado determinado pela concentra��o de renda n�o foi um empecilho, mas at� um est�mulo � industrializa��o, tornando desnecess�ria a reforma agr�ria, pois os lucros obtidos no setor de bens de consumo simples (t�xtil etc.) iam sendo aplicados nas ind�strias de materiais de constru��o, como no caso dos grupos Votorantim, Matarazzo, Jafet, etc., substituindo as novas importa��es que se faziam. Al�m disso, a partir da implanta��o do setor de materiais de constru��o (cimento, ferro, azulejo etc.), os grupos que se estabeleceram primeiro conseguiram oligopolizar o mercado, dispondo de superlucros crescentemente aplic�veis em novas substitui��es de importa��es.

������� Na passagem de um ciclo juglariano a outro foram necess�rias medidas institucionais que facilitassem as substitui��es de importa��es, como o controle do c�mbio, o confisco cambial do caf�, as reservas de mercado, as prioridades �s importa��es de equipamentos n�o produzidos internamente, os incentivos fiscais e credit�cios etc. Evidentemente, o Estado que chegou ao poder em 1930, no qual os industriais foram s�cios minorit�rios, foi indispens�vel ao bom sucesso deste percurso, e a concentra��o de rendas, fortemente ligada � aus�ncia de reforma agr�ria, s� passou a ser empecilho atualmente, � medida que o edif�cio industrial se completou, alcan�ando o limite final da substitui��o de importa��es com a rec�m-implantada ind�stria mec�nica pesada, tornando necess�rio um novo pacto de poder e um novo modelo de crescimento econ�mico-social.

II - Ciclos Longos e Inser��o do Brasil na Economia Mundial: Transi��o para a Economia Industrial

Combatendo a teoria das vantagens comparativas do com�rcio internacional, que apontava os benef�cios para a periferia da sua inser��o como produtora de bens prim�rios, a CEPAL, na sua an�lise das rela��es centro-periferia, insistia na degrada��o das rela��es de troca e assim na oposi��o entre na��es perif�ricas frente �s na��es do centro do sistema capitalista em conseq��ncia do bloqueio imposto ao desenvolvimento da periferia. Por sua vez, a teoria da depend�ncia, constatando o avan�o da industrializa��o na periferia, apontava para a exist�ncia de uma alian�a de interesses das classes dominantes centrais e perif�ricas e para as oportunidades de avan�o da industrializa��o dependente, capturada pelas multinacionais, nas conjunturas favor�veis da divis�o internacional do trabalho (DIT). A teoria dos ciclos econ�micos capitalistas (I. Rangel) apontava a possibilidade de expans�o capitalista nos pa�ses como o Brasil, tanto nas fases de expans�o do sistema capitalista mundial e da DIT, como nas fases de contra��o, tendo em vista a exist�ncia de um setor interno industrial, com dinamismo pr�prio como ficara demonstrado na d�cada de 30[31].

������� Para um conhecimento mais correto das rela��es centro-periferia � necess�rio considerar os processos de funcionamento do sistema capitalista mundial, em particular os mecanismos de g�nese e a��o dos ciclos longos (Kondratieff) no interior das economias centrais capitalistas, nas rela��es centro-periferia em geral, bem como em particular suas conseq��ncias no com�rcio internacional e nas possibilidades de rea��o ativa ou passiva dos diferentes segmentos geogr�ficos e setoriais da periferia �s conjunturas internacionais desfavor�veis.

1. Os ciclos longos e as rela��es centro-periferia capitalistas

Os ciclos longos na hist�ria do capitalismo central

������� O sistema capitalista teve origem na Inglaterra no s�culo XVI, com a implanta��o das manufaturas t�xteis de l� e dos arrendamentos capitalistas na agricultura, destinados a cria��o de carneiros, etc. Antes disso, e paralelamente, os capitais comerciais portugueses e espanh�is haviam lan�ado as bases das trocas comerciais e das pilhagens coloniais, seguidos pelos capitais comerciais ingleses, holandeses e franceses. Onde a economia capitalista manufatureira e agr�cola pouco avan�ava, como em Portugal e Espanha, os imp�rios coloniais refor�aram o feudalismo interno e barraram a transi��o ao capitalismo: o ouro da Am�rica deu mais vida ao feudalismo, do que acumula��o primitiva ao capitalismo ib�rico[32]. Naqueles pa�ses nos quais a economia manufatureira j� havia avan�ado, como na Holanda e na Inglaterra, ocorreram revolu��es burguesas precoces, nos s�culos XVI e XVII respectivamente, tornando os imp�rios coloniais bases da acumula��o primitiva capitalista, onde as trocas e pilhagens favoreciam a expans�o da manufatura e n�o a sobreviv�ncia do feudalismo nas metr�poles. Assim, n�o se deve tomar ao p� da letra a afirma��o de que era a supremacia comercial que dava margem, na �poca, � supremacia manufatureira[33]. N�o h� d�vida, entretanto, que a expans�o das manufaturas, nascentes na Inglaterra acopladas ao mercado interno, exigiam a conquista de novos mercados e assim expans�o comercial, conquistada de novas col�nias. Os s�culos XVI e XVII foram por excel�ncia o per�odo �ureo do capital comercial europeu, respons�vel pela nascente "Economia-mundo europ�ia"[34], na qual ocorreram diferentes graus de integra��o com a periferia em forma��o: as �reas de "plantations" escravistas no Brasil, Antilhas e Sul dos EUA foram as mais integradas, seguidas da Europa Oriental (Pr�ssia, Pol�nia, Hungria etc.) e Am�rica Espanhola, onde dominou o trabalho servil, refor�ada no primeiro caso, a chamada segunda servid�o, ou por substitui��o dos modos de produ��o asi�ticos existentes anteriormente entre os astecas, incas e maias. As economias tribais africanas, que forneciam os escravos para a Am�rica, as economias asi�ticas auto-suficientes da �ndia e da China, abastecedora, de artigos de luxo e as �reas de pequena produ��o mercantil da Nova Inglaterra e do Canad� mantiveram rela��es menos intensas com o capital comercial europeu.

������� A articula��o entre o centro e a periferia era realizada pelo capital comercial europeu e assim as forma��es s�cio-espaciais perif�ricas eram compostas de dois setores: o capital mercantil europeu presente na col�nia e na metr�pole e as estruturas produtivas internas que sozinhas n�o conseguiam definir um modo de produ��o. Na verdade, a escravid�o brasileira ou a servid�o na Am�rica espanhola eram mais complexas do que a escravid�o romana antiga ou o feudalismo europeu, pois n�o eram puras e sim cria��es simult�neas do capital comercial europeu, que obtinha super-lucros exportando aos pre�os mais altos e importando os pre�os mais baixos e para isto impunha na periferia rela��es de trabalho compuls�rias. No processo de emers�o do capitalismo foram nascendo forma��es sociais duais na periferia (capital comercial mais trabalho compuls�rio), na express�o de I. Rangel, que n�o podiam ser entendidas na estrita extens�o do territ�rio colonial, como a escravid�o no Brasil, que consistiu numa articula��o que abrangia a produ��o de mercadorias e subsist�ncias no Brasil, a reprodu��o da for�a de trabalho na �frica e a acumula��o de capital principalmente na Europa ocidental[35].

������� A economia-mundo europ�ia foi sujeita �s oscila��es c�clicas de longa dura��o, que consistiram num movimento secular, com uma fase de grande expans�o no s�culo XVI e outra fase depressiva no s�culo XVII. A fase expansiva correspondeu � implanta��o das manufaturas na Inglaterra e Holanda e �s descobertas mar�timas e coloniais sobretudo portuguesas e espanholas. A manufatura consistia num sistema avan�ado de organiza��o do trabalho, com sua divis�o interna, mas era tecnicamente conservadora, na medida em que era artesanal[36]. Uma vez implantado, o sistema se expandia horizontalmente, sem maiores renova��es t�cnicas de capital intensivo. Provavelmente por esta raz�o o s�culo XVII foi marcado pela baixa conjuntura, pois o sistema manufatureiro n�o podia sofrer altera��es verticais, al�m de que os territ�rios coloniais conquistados no s�culo XVI n�o foram ampliados e as guerras comerciais se restringiram mais a disput�-los[37].

������� Durante o s�culo XVII a depress�o econ�mica que se manifestou na Europa, exce��o da Holanda, provocou grande diminui��o do com�rcio colonial e assim queda da produ��o dos g�neros coloniais, principalmente no per�odo 1620-1670. A periferia, aparentemente, permaneceria deprimida, mas os acontecimentos hist�ricos mostraram que na �ndia, no Brasil, nas col�nias americanas da Espanha e mesmo num pa�s ent�o semi-perif�rico como Portugal, haviam potenciais dispon�veis � expans�o de produ��es destinadas aos mercados internos, at� ent�o abastecidos pelo capital mercantil europeu.

������� Na �ndia houve forte crescimento das manufaturas t�xteis, que provocou conjuntura econ�mica favor�vel ao com�rcio, � agricultura, etc. No Brasil e na Am�rica espanhola desenvolveram-se a pecu�ria e a agricultura destinadas ao abastecimento interno e nas cidades do M�xico, Peru, Chile, etc. desenvolveram-se manufaturas de tecidos de algod�o e l�, grandes (obrajes) e pequenas (trapiches), manufaturas reais de cigarros e p�lvoras, f�bricas de lou�as e chap�us, etc. que floresceram exatamente nas conjunturas de depress�o do com�rcio colonial nos s�culos XVII e XVIII[38]. A mesma rela��o entre depress�es comerciais e arranques industriais ocorreu em Portugal, onde a queda dos pre�os do a��car, tabaco, cravo, etc. acabou provocando no per�odo 1670-1690 o primeiro impulso industrialista, de tipo colbertiano, interrompido com a eleva��o dos pre�os dos g�neros coloniais nos fins do s�culo XVII. Nos s�culos seguintes, depress�es comerciais continuaram a estimular rea��es industrializantes em Portugal[39].

������� O per�odo mercantilista e manufatureiro do capitalismo apresentou fases de expans�es e depress�es comerciais, al�m de ter estimulado na periferia 1) rela��es de produ��o que se subordinavam ao capital comercial europeu e 2) o desenvolvimento das for�as produtivas mesmo nas fases de depress�es comerciais, inclusive na semiperiferia ib�rica. O que se passou no per�odo industrial do capitalismo?

Com�rcio internacional e modos de produ��o no Brasil

������� Os contempor�neos da grande depress�o da segunda metade do s�culo XIX (1873-1896), como F. Engels, haviam percebido a exist�ncia de um per�odo prolongado de contra��o econ�mica, mas somente os estudos de estat�stica econ�mica de N. Kondratieff, publicados em 1926, demonstraram a evid�ncia emp�rica dos ciclos longos, nos quais se alternavam fases de expans�o e fases de depress�o econ�micas[40]. Assim, desde a primeira revolu��o industrial sucederam-se quatro ciclos longos, com um primeiro per�odo expansivo (a) e um segundo depressivo (b), totalizando cinq�enta anos cada um, aproximadamente, como se segue:

(a)

(b)

1� ciclo longo de Kondratieff

1790-1815

1815-1848

2� ciclo longo ou Kondratieff

1848-1873

1873-1896

3� ciclo longo ou Kondratieff

l896-1920

1920-1948

4� ciclo longo ou Kondratieff

1948-1973

1973-1996(?)

Os ciclos longos desempenharam e continuam desempenhando papel fundamental no funcionamento do sistema capitalista. A fase expansiva do primeiro ciclo longo (1790-1815) correspondeu ao auge da primeira revolu��o industrial (Inglaterra), ponto de partida dos ciclos industriais longos (Kondratieff) e m�dios (Juglar) e do capitalismo concorrencial, que se estendeu historicamente pelos dois primeiros ciclos longos (1790-1896). Na fase depressiva do segundo ciclo longo (1873-1896) aceleraram-se as muta��es que transformaram o capitalismo concorrencial em monopolista e imperialista, bem como foram lan�adas as bases da segunda revolu��o industrial (EUA e Alemanha), O capitalismo monopolista tem correspondido ao terceiro e quarto ciclos e mesmo o planejamento keinesiano, vigente desde a d�cada de 30 no centro do sistema, n�o impediu a eclos�o de nova fase depressiva, iniciada em 1973, durante a qual parecem estar em gesta��o as inova��es t�cnicas e outras mudan�as que permitem pensar numa terceira revolu��o industrial, que dever� se abrir na d�cada de 90 (Jap�o?). Estas r�pidas observa��es levam a concluir que os ciclos longos fazem parte do cerne do capitalismo e de sua periodiza��o[41].

������� O capitalismo tem funcionado � base de longas fases de investimentos crescentes, expans�o e euforia, como no ap�s segunda-guerra mundial e de fases de queda do n�vel dos investimentos, depress�o e pessimismo, como est� acontecendo desde 1973. Como explicar esta altern�ncia sucessiva de expans�o-depress�o? Ao introduzir a m�quina-a-vapor, a revolu��o industrial inglesa permitiu a eleva��o da taxa de lucro e provocou o r�pido desaparecimento das manufaturas e artesanatos na Inglaterra. Mas � medida em que esta inova��o foi entrando em todos os ramos industriais, ela foi esgotando paulatinamente as �reas carentes de investimentos e baixando a taxa m�dia do lucro, criando uma situa��o desinteressante ao capital e abrindo, assim, um per�odo depressivo (1815-1848). Ao se esgotarem as possibilidades de avan�o da m�quina-a-vapor no setor industrial, o capitalismo ingl�s adotou duas alternativas: 1) expans�o do com�rcio internacional, com a crescente penetra��o de seus tecidos em novos mercados, sucessivamente �ndia colonial, Am�rica rec�m-independente e China ap�s a guerra do �pio (1842), cujos artesanatos e manufaturas foram sendo destru�dos e 2) est�mulos �s inven��es que permitissem a aplica��o da m�quina-a-vapor aos meios de transporte continentais e oce�nicos, que haviam se mantido "manufatureiros". Enquanto a primeira op��o correspondia a uma acumula��o extensiva, horizontal e geogr�fica, a segunda era uma op��o que provocou logo depois acumula��o intensiva e vertical, rejuvenescendo e dinamizando a Inglaterra quando foi posta em pratica maci�amente, abrindo nova fase expansiva do capitalismo (1848-1873), baseada na utiliza��o crescente dos trens e navios-a-vapor em todos os quadrantes do mundo[42].

������� Passada a grande fase de investimentos na moderniza��o dos transportes, que permitindo baratear seus custos deu novo impulso � divis�o internacional do trabalho patrocinada pela ind�stria inglesa, os neg�cios voltaram a se contrair no per�odo 1873-1896, fase depressiva do 2� Kondratieff. Nesta fase as fus�es industriais se aceleraram na Inglaterra e o capital industrial foi penetrando no setor banc�rio, resultando no capitalismo monopolista e financeiro. Diante da queda do com�rcio internacional, o poder militar ingl�s se encarregou de abrir novos mercados na �frica e na �sia, lan�ando as bases da etapa imperialista do capitalismo, como parte do processo de acumula��o extensiva e horizontal. A Inglaterra n�o reagiu � depress�o de 1873-1896 de maneira din�mica, diferentemente dos EUA e Alemanha, at� ent�o atrasados, que foram os lugares onde ocorreram as inven��es que permitiram a eclos�o da segunda revolu��o industrial (linha de montagem, eletricidade, qu�mica etc.), no final do s�culo XIX e in�cios do s�culo XX[43].

Ciclos longos e rea��es econ�micas no Brasil

������� As rela��es centro-periferia criadas pelo capital comercial no s�culo XVI e refor�adas pela manufatura capitalista que sustentaram uma grande variedade de trabalhos compuls�rios na periferia, intensificaram-se no s�culo XIX com o crescimento do capitalismo industrial ingl�s, respons�vel pela passagem dos modos de produ��o escravistas e asi�ticos perif�ricos aos modos de produ��o feudais perif�ricos[44].

������� Nas fases expansivas dos ciclos longos (1790-1815 e 1848-1873), os investimentos no centro como na periferia cresciam. A expans�o da Inglaterra determinava maiores aquisi��es de mat�rias-primas e alimentos da periferia, que sofria extrovers�o em decorr�ncia de um crescimento proporcionalmente maior do com�rcio internacional em rela��o � economia. Nas fases depressivas dos ciclos longos emanados do centro (1815-1848 e 1873-1896), as compras de mat�rias-primas e alimentos da periferia decresciam bem como os pre�os, ocorrendo contra��o da DIT mais do que proporcional � economia, grande ociosidade de capital-dinheiro, terras e for�a de trabalho voltados � produ��o exportadora, provocando tend�ncias desiguais � estagna��o ou ao crescimento para dentro, pela via de substitui��o de importa��es[45]. O com�rcio internacional acompanhou rigorosamente os ciclos longos como se pode perceber nos dados de W.W. Rostow[46], que calculou suas taxas anuais m�dias de crescimento por, per�odos: 1860-70 (5,5%), 1870-1900 (3,2%), 1900-13 (3,7%), 1913-29 (0,7%), 1929-38 (-1,15%) 1938-48 (0,0%), 1948-71 (7,3%), com avan�o ou recuo da DIT nas fases expansivas e depressivas da economia mundial respectivamente.

������� Os dados organizados por H. Bruit[47], referentes ao comercio exterior de cinco pa�ses latino-americanos no per�odo 1850-1914, confirmam as tend�ncias de abertura e fechamento das economias nacionais ao com�rcio internacional, mas servem para distinguir dois tipos de rea��es diferentes. Brasil, M�xico e Col�mbia caracterizavam-se por uma inser��o moderada na DIT durante o per�odo: o com�rcio exterior por habitante, apesar de variar conforme os est�mulos emanados do centro do sistema, n�o se ampliou nitidamente. Assim, o Brasil partiu de menos de �4 (1850-54), tendo atingido pouco mais de �6 em 1870-74 e 1880-84, caindo para �3 em 1900-04 e n�o alcan�ando �5 em 1910-14. J� a Argentina e Chile apresentaram crescente inser��o na DIT: a Argentina partiu de �5,5 em 1860-64 e apesar das leves oscila��es c�clicas, ultrapassou �20 em 1910-14. A Argentina e o Chile, em decorr�ncia da crescente demanda internacional de trigo, carnes e l� no primeiro caso e de nitratos no segundo caso, se abriram fortemente � DIT no s�culo XIX, enquanto Brasil, M�xico e Col�mbia continuavam a desenvolver na mesma �poca economias voltadas ao mercado interno nos per�odos de depress�o externa (Gr�fico 1).

������� I. Rangel[48] foi o primeiro a relacionar a estrutura e evolu��o da forma��o social brasileira aos modos de produ��o dominantes no centro do sistema. O escravismo como cria��o do capital comercial europeu, nas condi��es espec�ficas das for�as existentes em certas �reas da periferia, estava maduro para assumir o poder no Brasil durante o per�odo depressivo do 1� Kondratieff (1822), em sociedade com o capital comercial brasileiro, que se havia formado nas principais pra�as portu�rias. (Rio, Recife, Salvador, etc.), ao longo do per�odo colonial, como dissid�ncia do capital comercial portugu�s. Esta alian�a de classes dominantes brasileiras havia rompido sua subordina��o ao capital comercial da metr�pole portuguesa e passava a se relacionar com o capital industrial ingl�s, ao redor do qual passou a girar de 1808 a 1930. No per�odo depressivo de 2� Kondratieff (1876-96) ocorreu outro reajuste de classes dominantes e do pacto de poder interno: os senhores de escravos cederam a hegemonia e se transformaram em senhores de terras, como dirigentes subalternos. No per�odo depressivo do 3� Kondratieff (1930), os senhores de terras assumiram a hegemonia, aliados aos industriais dissidentes do capital comercial interno e substitu�ram a depend�ncia ao capital industrial ingl�s pela subordina��o ao capital financeiro norte-americano, mais din�mico.

������� As rela��es sociais no interior da forma��o social brasileira alcan�aram graus de maior tens�o nos per�odos depressivos dos ciclos longos, como as lutas regionalistas que sacudiram o Brasil durante o per�odo regencial (Balaiada, Cabanada, Farrapos, etc.), as rebeli�es que antecederam a Aboli��o � Rep�blica, o Tenentismo das d�cadas de 1920-30, que conduziram � reformula��o dos pactos de poder dominantes[49]. Por outro lado, tais pactos, envolvendo igualmente as for�as sociais dominantes no centro do sistema, apesar de vigentes em toda a periferia, tiveram suas especificidades em cada forma��o social nacional: a revolu��o de 1930 no Brasil apeou do poder os setores agro-exportadores, que na Argentina, na mesma �poca, tiveram seu poder refor�ado, com conseq��ncias desiguais no processo de substitui��o de importa��es[50].

������� Os pactos de poder se fizeram acompanhar da luta pela hegemonia das id�ias econ�micas. A pol�tica inglesa de amplia��o do com�rcio internacional encontrou defensores na Am�rica Latina de ap�s-independ�ncia: os chamados "liberais", como o visconde de Cairu e Jovellanos, mas a conjuntura depressivo de 1815-1848 favoreceu a defesa das id�ias chamadas "conservadoras", de interven��o do Estado, protecionismo e defesa da mercando interno. Com o avan�o da DIT ap�s 1848, os "liberais", apoiados pela Inglaterra tornaram-se vitoriosos e tomaram medidas de abertura, em prol do livre-com�rcio[51].

������� O s�culo XIX apresentou duas fases depressivas prolongadas (1815-48 e 1873-96), durante as quais as rea��es � penetra��o das mercadorias inglesas variaram conforme os pactos de poder existentes na periferia. Assim, comparando os exemplos da �ndia Brit�nica, Brasil e M�xico, percebemos que por volta de 1820-30 as tarifas de importa��es mais baixas eram cobradas na �ndia (3% ad-valorem), seguidas pelas brasileiras (15%) e as mais altas eram as do M�xico, que alcan�avam 40%[52]. Certamente estas taxas diferentes relacionavam-se com a falta de autonomia pol�tica da �ndia Colonial, a independ�ncia brasileira realizada sob prote��o inglesa e o processo de lutas intensas que provocaram a independ�ncia do M�xico. Assim, nesse per�odo, teve seq��ncia a invas�o de tecidos ingleses na �ndia Colonial, no Brasil e no M�xico, mas na periferia latino-americana houve uso das capacidades ociosas criadas na depress�o de 1815-48. No M�xico, por exemplo, o governo independente tornou-se protecionista e industrialista. Sob a lideran�a do ministro L. Alam�n n�o s� manteve altas as tarifas de importa��o, como criou o Banco de Avio, respons�vel pelo financiamento de v�rias f�bricas t�xteis modernas implantadas neste per�odo[53]. A rea��o brasileira foi mais modesta, em vista dos compromissos assumidos pelo Estado no processo de independ�ncia, mas eficiente. A ociosidade de terras e bra�os antes voltados � exporta��o foi canalizada � produ��o de alimentos e mat�rias-primas e � produ��o de tecidos, m�veis, roupas, etc. que realizavam uma substitui��o de importa��es no interior das fazendas escravistas. O capital comercial brasileiro, que tamb�m se tornou ocioso, deu origem aos primeiros bancos comerciais privados de 1838 a 1847 no Rio, Salvador, S�o Luiz, Bel�m e Recife, al�m de que o enfraquecimento das finan�as p�blicas em conseq��ncia da queda das receitas cambiais, levou o Estado brasileiro a baixar em 1844 as primeiras tarifas fiscais e protecionistas de nossa hist�ria[54].

������� O avan�o da DIT nos anos 1848-73 provocou nova extrovers�o nas economias perif�ricas e o enfraquecimento dos setores ligados � substitui��o de importa��es realizadas anteriormente: no M�xico as tarifas foram afrouxadas a partir de 1856 e no Brasil a partir de 1857, provocando desindustrializa��o entre n�s, que se manifestou, por exemplo, no fechamento do estaleiro naval do Bar�o de Mau�[55]. Na verdade, ao longo de todo o s�culo XIX as tarifas de importa��o variaram na Europa Continental como tamb�m na periferia em vista das expans�es e depress�es da economia industrial inglesa, baixando e subindo respectivamente, num movimento inverso[56].

2. Ciclos longos, substitui��o de importa��es e industrializa��o brasileira

������� A industrializa��o brasileira nasceu sob o signo das rela��es mundiais de nossa economia, ao influxo dos ciclos emanados do centro do sistema capitalista, tendo adquirido um impulso extraordin�rio desde a revolu��o de 1930, em conjuntura de forte contra��o do com�rcio internacional, continuando seu avan�o r�pido no ap�s-guerra, mesmo com a recupera��o do sistema mundial capitalista.

Da substitui��o natural � substitui��o industrial

������� Assinalamos, anteriormente, que a rela��o entre conjunturas mundiais favor�veis e desfavor�veis � DIT e atividades econ�micas no Brasil constitu�ram um dado b�sico de nossa hist�ria[57]. Assim, quando a produ��o a�ucareira no Brasil nos fins do s�culo XVII e in�cios do XVIII sofreu forte contra��o causada pela concorr�ncia das Antilhas, houve uma rea��o din�mica no interior dos engenhos, visando manter elevado o n�vel das atividades, usando a capacidade instalada que se tornava ociosa. Benci em 1700 e Antonil em 1711 constataram que os senhores de engenho do Nordeste para fazer face � crise, punham a disposi��o de seus escravos pequenos lotes de terras e um dia da semana destinados aos cultivos de subsist�ncia, dando origem ao que se pode chamar de "brecha camponesa" no escravismo colonial[58].

������� Igualmente, quando se iniciou a partir de meados do s�culo XVIII a fase de decad�ncia da extra��o do ouro em Minas Gerais, ocorreu um s�lido processo de substitui��o de importa��es, que foi dando origem � "fazenda mineira", caracterizada por uma policultura agr�ria extremamente variada, al�m de forte auto-sufici�ncia artesanal. Por isto mesmo o Marqu�s do Lavradio, em 1779, salientava "a independ�ncia com que os povos de Minas se tinham posto dos g�neros da Europa, estabelecendo a maior parte dos particulares, nas suas pr�prias fazendas, f�bricas e teares, com que se vestiam a si e � sua fam�lia e escravatura, fazendo panos e estopa e diferentes outras drogas de linho e algod�o, e ainda de l�"[59]. Este mesmo processo ocorreu em menores propor��es nas �reas de minera��o de Mato Grosso e Goi�s, como assinalaram os viajantes estrangeiros, permitindo o aparecimento de um setor de subsist�ncia muito diversificado, em diferentes regi�es brasileiras, que est� na raiz do que M. Santos chama de "circuito inferior da economia"[60].

������� Mas foi somente com o capitalismo industrial dominante no centro do sistema capitalista, que os ciclos longos se manifestaram e de maneira muito vigorosa nas rela��es centro-periferia. Se a conjuntura ascendente de 1790-1815 havia contribu�do � diversifica��o e amplia��o das exporta��es brasileiras (algod�o e couros sobretudo), o per�odo de baixa conjuntura internacional que vai de 1815 a 1848 provocou no Brasil uma generalizada substitui��o de importa��es, que se repetiu, ainda no s�culo XIX, na baixa conjuntura de l873-1896, como j� se assinalou[61].

������� No processo que deu origem � independ�ncia brasileira manifestaram-se duas tend�ncias econ�micas contradit�rias referentes � industrializa��o: a inten��o industrializante da coroa portuguesa, baseada na experi�ncia pombalina e consubstanciada no alvar� de 28 de abril de 1809 e a subordina��o do com�rcio importador aos interesses do capital industrial ingl�s, conforme o tratado de 19 de fevereiro de 1810, que conferiu �s manufaturas inglesas tarifa preferencial de 15%[62]. Da coexist�ncia destas duas linhas resultaram algumas, iniciativas estatais e privadas, que deram origem � implanta��o de algumas ind�strias e manufaturas, nos ramos sider�rgico, t�xtil etc., que tiveram poucos anos de vida, pois n�o suportaram a concorr�ncia dos produtos ingleses[63].

������� A queda do com�rcio exterior brasileiro no per�odo 1821-30 a 1841-50 de �1,95/habitante/ano a �1,64[64], foi provocando s�ria crise nas finan�as do Estado, al�m de sentimentos nacionalistas e protecionistas. Assim, com o encerramento da vig�ncia do tratado de 1810, acabou sendo decretada em 1844 a tarifa Alves Branco que visava "n�o s� preencher o d�ficit do Estado, como tamb�m proteger os capitais nacionais j� empregados dentro do pa�s em alguma ind�stria fabril, e animar outros a procurarem igual destino", elevando as taxas sobre os tecidos importados a 30%. Al�m disto, as f�bricas de tecidos foram beneficiadas em 1846-47 por vantagens fiscais[65]. Em 1844 existiam no Brasil quatro f�bricas de tecidos de algod�o, tr�s nascidas na Bahia em 1834, 1835 e 1844 e uma no Rio de Janeiro, nascida em 1840. At� 1857-60, quando a pol�tica tarif�ria brasileira sofreu libera��o, surgiram mais sete, sendo tr�s na Bahia e as demais em Alagoas, Minas, Rio e S�o Paulo[66].

������� A contra��o do com�rcio mundial no primeiro ciclo Kondratieff permitiu aplica��o de capital-dinheiro dos comerciantes das pra�as portu�rias brasileiras em atividades banc�rias[67] e em algumas ind�strias de tecidos de algod�o, as quais, entretanto, n�o podiam realizar uma significativa substitui��o de importa��es diante da vigorosa concorr�ncia inglesa. O principal esfor�o de substitui��o de importa��es naquela conjuntura foi a diversifica��o das atividades produtivas no interior da fazenda de escravos, numa "economia natural onde o poder de competi��o da ind�stria capitalista do centro din�mico chegava mais enfraquecido do que se limitado por uma forte tarifa aduaneira[68].

������� A queda do com�rcio exterior no per�odo 1821-1850, acima assinalada, evidenciou-se nos seguintes dados: para uma popula��o de quatro milh�es de habitantes em 1821, o Brasil importava �4,57 milh�es, enquanto em 1848-50 quando a popula��o havia alcan�ado sete e meio milh�es import�vamos � 6,38 milh�es, o que obrigava a ampliar a economia natural para atender a queda das importa��es. Na verdade, esta economia natural no interior das fazendas j� vinha do per�odo colonial, incluindo os tecidos grossos destinados ao vestu�rio dos negros e a enfardar g�neros agr�colas[69] e foi ampliada neste per�odo, visando substituir as importa��es em decl�nio.

������� O artesanato dom�stico rural esteve difundido por todo o territ�rio brasileiro durante o per�odo colonial, conforme assinalou S. Buarque de Holanda e observaram os viajantes estrangeiros que percorreram o Brasil no in�cio do s�culo XIX, em pontos t�o distantes como o interior de S�o Paulo, a ilha de Santa Catarina ou os arredores de Cuiab�[70]. Entretanto, Minas Gerais foi, provavelmente, a �rea na qual os artesanatos mais se estenderam e se aprofundaram, desde a produ��o das necessidades de consumo comuns e de luxo, at� a produ��o de utens�lios para o trabalho agr�cola[71].

������� Em Minas Gerais desde o s�culo XVIII at� as primeiras d�cadas do XX "foi t�o generalizada a planta��o de algodoeiro, que em cada fazenda havia teares para o fabrica de tecidos grosseiros". A maior parte da produ��o de tecidos de algod�o era constitu�da de panos grosseiros para escravos e pobres, mas tamb�m se produziam tecidos finos usados na "Confec��o de roupas masculinas e roupas de baixo, al�m das conhecidas toalhas de mesa, len��is e colchas, que rivalizavam com as mais finas importa��es". Em 1827-28 produziam-se em Minas 7,4 milh�es de metros de tecidos de algod�o, que representavam quase 20% das importa��es brasileiras de tecidos de algod�o ingl�s, sendo que 30% da produ��o mineira era exportada, principalmente ao Rio de Janeiro. O avan�o do DIT ap�s 1850 estimulou as fazendas a se especializarem na produ��o para exporta��o, absorvendo m�o-de-obra da produ��o natural e criando mercado para os tecidos industriais, importados ou produzidos internamente. Assim, em 1869 o presidente da prov�ncia lamentava que "a ind�stria manufatureira j� prosperou na Prov�ncia mais do que hoje, e tende a decair cada vez mais, com a concorr�ncia dos produtos estrangeiros mais perfeitos e menos custosos, que a facilidade das vias de comunica��o vai introduzindo na prov�ncia". Em 1872 Minas Gerais reunia 55% dos 139 mil trabalhadores em tecidos recenseados no Brasil, mas as exporta��es dos "panos de Minas", t�o fortes durante a primeira metade do s�culo XIX, declinaram a partir de 1875 e desapareceram nos �ltimas anos do s�culo[72].

������� Quanto � siderurgia, mesmo antes da independ�ncia o Estado financiou a implanta��o de altos fornos no in�cio do s�culo XIX, em S�o Paulo e Minas, mas que n�o tiveram sucesso. Como assinalou Eschwege, al�m de outras dificuldades, o mercado consumidor, pelo menos no caso de Minas Gerais, estava atendido pelas in�meras forjas existentes na zona central da prov�ncia, em todas as grandes fazendas, produzindo ferro em cadinhos, transformado em ferraduras de animais, pe�as de engenho, ferramentas agr�colas etc. Em 1853, segundo J. Monlevade, existiam 84 forjas naquela zona, em 1883 foram relacionadas 75 e em 1894 haviam 55, das quais 6 pequenas usinas fundadas ap�s 1888. Como o artesanato t�xtil dom�stico, a sobreviv�ncia foi prolongada, mas com as novas condi��es do com�rcio mundial as forjas primitivas foram cedendo lugar �s usinas, a primeira das quais, a usina Esperan�a, foi implantada em 1888[73].

������� A contra��o da economia mundial capitalista, que estimulou a auto-sufici�ncia da fazenda escravista no Brasil, teve fim em 1848-50, e a partir da� a utiliza��o maci�a de transporte ferrovi�rio e da navega��o a vapor em todo o planeta garantiu grandes investimentos e incentivou a periferia a produzir mais g�neros de exporta��o. A economia brasileira voltou a se inserir na DIT, desestimulando a produ��o natural nas fazendas, que passou a declinar. O com�rcio exterior brasileiro, que havia sido de � 1,64/habitante/ano no per�odo 1841-50, o mais baixo do s�culo XIX, alcan�ou �3,40 no per�odo 1871-80, garantindo lucratividade �s atividades de exporta��o e estimulando as importa��es inglesa[74]. Como j� apontamos anteriormente, se a conjuntura de contra��o do com�rcio mundial havia favorecido o estabelecimento de tarifas protecionistas em 1844, a sua expans�o a partir de 1848-50 contribuiu para a redu��o das tarifas aduaneiras em 1857 e 1860 e reintrodu��o de nova fase de livre-com�rcio, dificultando a exist�ncia das poucas "f�bricas nacionais", surgidas na conjuntura anterior. Por outro lado, a reinser��o do Brasil na DIT, propiciando recursos monet�rios aos fazendeiros, levou-os a abandonar suas casas-grandes, onde se realizavam os artesanatos de auto-consumo, e a se instalarem nas cidades, dando impulso � urbaniza��o brasileira ap�s 1850[75].

������� Esta urbaniza��o de ap�s 1850 acentuou uma das caracter�sticas das cidades brasileiras, a de cidades de fazendeiros, que ali�s nelas se instalaram com sua numerosa criadagem escrava liberada das casas-grandes. A partir de 1873, excetuando o caf�, cujo pre�o caiu mais tarde, os produtos de exporta��o brasileiros acusavam queda no pre�o obtido no mercado, provocando o decl�nio da renda monet�ria e empobrecimento da aristocracia rural rec�m urbanizada. Assim, essa popula��o escrava foi sendo lan�ada ao mercado urbano de trabalho, alugados ou como "negros de ganho"[76], em profiss�es que freq�entemente contribu�am para substituir importa��es, como carpinteiros, pedreiros, gr�ficos mec�nicos e muitas vezes agrupados espacialmente como rua Ferradores (atual rua da Alf�ndega) ou a Praia dos Sapateiros (Praia do Flamengo), al�m de constitu�rem parte significativa da m�o-de-obra especializada das manufaturas de chap�us e outras do Rio de Janeiro. Assim como a "brecha camponesa" das primeiras crises da economia exportadora escravista, o "negro de ganho" foi tamb�m uma brecha, inserido na pequena produ��o mercantil urbana nas �ltimas d�cadas de escravid�o[77].

������� Al�m da substitui��o de importa��es urbanas artesanais e manufatureiras usando m�o-de-obra escrava e livre, ocorreu tamb�m uma substitui��o natural no interior das fazendas, mais modesta que anteriormente, e come�ou a se generalizar, principalmente pela aplica��o dos capitais comerciais, que cresceram rigorosamente de 1850 a 1873, mas que se tornavam ociosos desde ent�o, uma substitui��o industrial de importa��es no setor t�xtil, desde o Maranh�o at� o Rio Grande do Sul, beneficiada pelas tarifas ascendentes de 1879. Note-se que esta substitui��o industrial, modesta inicialmente, passou a desempenhar papel central na economia brasileira ap�s 1930[78].

Os principais ramos industriais no in�cio do s�culo XX

������� Quais os ramos industriais que se desenvolveram no Brasil at� as primeiras d�cadas do s�culo XX? As produ��es industriais mais avan�adas eram as de alimentos, t�xteis e vestu�rio. Alguns destes setores j� eram claramente industriais: tecidos de algod�o, l� e juta, al�m da produ��o de a��car, f�sforos e cerveja, enquanto outros permaneciam ainda com caracter�sticas manufatureiras e mesmo artesanais, como as produ��es de cal�ados, chap�us, cigarros e charutos, m�veis, banhas, charque, al�m dos curtumes e oficinas mec�nicas e fundi��es. A produ��o de tecidos de algod�o, entretanto, era de longe a mais importante.

������� Assim como na Inglaterra do s�culo XVIII, o ramo t�xtil foi o primeiro a se tornar industrial, mas sem passar pela longa fase manufatureira, saltando rapidamente da fase artesanal � industrial. Esta passagem ganhou impulso a partir de 1865-70, visando atender �s necessidades das fazendas, que se especializavam nos g�neros de exporta��o e abandonavam a produ��o artesanal de auto-consumo. Assim, por exemplo, em Minas Gerais (Sete Lagoas), na fazenda de A.G. Mascarenhas, em meados do s�culo XIX, havia 12 teares manuais operados por escravos, produzindo tecidos de algod�o para ensacar g�neros agr�colas e vestir os escravos, al�m de alguma sobra para vender. Seus filhos, que haviam exercido atividades comerciais lucrativas (sal) instalaram 18 teares mec�nicos importados dos Estados-Unidos, acionados por for�a hidr�ulica, supervisionados por t�cnico americano, e com forra de trabalho, mat�rias-primas e mercado consumidor das redondezas, que come�aram a produzir em 1872. O mesmo processo acima referido, iniciado na Bahia, come�ava a se generalizar por todo o territ�rio brasileiro[79].

������� Tendo come�ado com estabelecimentos de pequeno porte no per�odo 1840-1870, substituindo a produ��o artesanal das fazendas reinseridas na DIT, a produ��o industrial de tecidos de algod�o iniciava sua concorr�ncia aos produtos importados nas duas �ltimas d�cadas do s�culo XIX. Deste modo, em 1907 j� controlava 67% do mercado interno e atingia 81% em 1913, acelerando o processo. Assim sendo, na �ltima data n�o s� era nitidamente o mais importante segmento industrial brasileiro, como era o 10� parque t�xtil no mundo, ocupando 50 mil teares[80].

������� Al�m da ind�stria t�xtil, onde predominava a produ��o de tecido de algod�o, o ramo alimentar teve grande significa��o no in�cio do s�culo XX. Apresentava-se tamb�m bastante disperso geograficamente e muito diversificado quanto aos sub-ramos. Certos segmentos ainda mantinham caracter�sticas fortemente manufatureiras, como os estabelecimentos produtores de banha de porco e sobretudo as charqueadas, muito numerosas no Rio Grande do Sul, onde as maiores unidades empregavam centenas de trabalhadores. Durante a primeira guerra mundial, a partir de incentivos governamentais, implantavam-se matadouros-frigor�ficos, principalmente em S�o Paulo, usando t�cnicas modernas e voltados conjunturalmente �s exporta��es (33 mil toneladas em 1918), que acabaram sendo controlados por capitais norte-americanos e ingleses. No ramo alimentar houve avan�o das usinas de a��car, no Nordeste e no Estado do Rio de Janeiro, que acabaram absorvendo grande n�mero de engenhos, numa moderniza��o sem mudan�as sociais[81]. Tamb�m no final do s�culo XIX e in�cio do XX, cresceram produ��es tipicamente artesanais e manufatureiras de substitui��o de importa��es, que ali�s j� se haviam completado em setores como cervejas, chocolates, massas aliment�cias, etc., sendo que o primeiro dos citados se tornava rapidamente industrial (Brahma � Rio de Janeiro e Ant�rtica � S�o Paulo, que tinham 700 e 362 empregados, respectivamente, em 1907).

������� Igualmente dispersos nas maiores cidades brasileiras apareciam outros setores "industriais", que aparecem eram muito precocemente no processo de substitui��o de importa��es da primeira metade do s�culo XIX, como artesanatos que se tornaram manufaturas e que cresceram durante o per�odo de substitui��o de importa��es do 2� Kondratieff (1873-1896), usando parcela consider�vel de m�o-de-obra escrava especializada (negros de aluguel), al�m de trabalhadores urbanos livres, muito dos quais imigrantes estrangeiros rec�m-chegados. Em 1907, estes setores, j� em parte transformados em industriais, controlavam o mercado interno em altas propor��es: charutos e cigarros (100%), cal�ados (95%), chap�us (90%), m�veis (90%), etc.[82].

������� Se as ind�strias das primeiras d�cadas do s�culo XX eram claramente ramos de consumo popular, como fica claro na rela��o do Censo Industrial � 1907, � importante chamar a aten��o para o car�ter precoce de algumas produ��es industriais de equipamento. J� assinalamos que elas existiam durante o s�culo XIX no interior do complexo rural brasileiro. Mas nas grandes cidades elas apareceram muito cedo, como oficinas mec�nicas e fundi��es para atender as necessidades de conserto das m�quinas das usinas-de-a��car (Recife), das fazendas de caf� (S�o Paulo e Campinas), dos navios a vapor (Rio de Janeiro), etc.[83]

G�nese dos capitais e localiza��o industrial na primeira fase

������� O primeiro grande segmento industrial brasileiro foi constitu�do pelas f�bricas de tecidos de algod�o, que surgiram inicialmente na Bahia, onde funcionaram 11 dos 30 estabelecimentos existentes no Brasil em 1875[84]. Em fins do s�culo XIX a cidade do Rio de Janeiro ocupava a primeiro lugar n�o s� no ramo t�xtil, mas em geral: em 1907 contribuiu com 33,1% da produ��o industrial brasileira, quando todo o Estado de S�o Paulo participou com apenas 16,5%. Entretanto, durante a primeira guerra mundial, S�o Paulo assumiu a lideran�a, que foi sendo cada vez mais ampliada. Como explicar estas mudan�as?

������� As primeiras iniciativas industriais na Bahia foram tomadas pelos grandes comerciantes portugueses[85], antes mesmo de 1850 e estiveram ligadas � grande contra��o das atividades agr�colas de exporta��o da primeira metade do s�culo XIX, que atingiu mais agudamente esta antiga regi�o a�ucareira, provocando grande ociosidade de terras e bra�os, que explica o surgimento precoce no Rec�ncavo de um campesinato rec�m-liberto (policultura e fumo no s�culo XIX) e consequentemente grande ociosidade do capital comercial, que procurou caminho nas ind�strias de substitui��o de importa��es de tecidos populares e sacos de algod�o de uso regional. No caso do Rio de Janeiro, a ind�stria t�xtil tamb�m surgiu cedo, mas seu grande impulso data da d�cada de 1870-80, com transfer�ncia de capitais do com�rcio importador. Aqui, novamente, os capitais comerciais foram se tornando ociosos com a contra��o do centro do sistema capitalista ap�s 1873 e como eles eram os maiores importadores e atacadistas de tecidos do Brasil (A. Vizeu, Sotto Maior, D. Bebiano, etc.), acabaram dando origem �s maiores f�bricas de tecidos nacionais da �poca, como a Am�rica Fabril, metropolitana, etc.[86]. O mesmo processo ocorreu nas pra�as comerciais do Nordeste, como assinalaram M. C. Pereira de Melo e D.M. Passos Sobrinho, estudando o Maranh�o e Sergipe, respectivamente[87].

������� As primeiras iniciativas industriais em S�o Paulo foram tomadas pela aristocracia rural. As seis primeiras tecelagens paulistas come�aram a funcionar entre 1870 e 1876, n�o longe das �reas algodoeiras. A expans�o da lavoura de caf� ia absorvendo m�o-de-obra escrava dos setores de auto-consumo das fazendas, dispensando a produ��o no complexo rural dos tecidos artesanatos destinados a vestir seus escravos. Assim, foram frutificando as iniciativas industriais dos fazendeiros de algod�o (A. Paes de Barros, D.P. Souza Arouca, etc.) ou de caf� (Souza Queiroz, etc.) que importavam equipamentos e t�cnicos europeus ou norte-americanos e tinham como mercado consumidor os trabalhadores escravos das fazendas de caf�[88].

������� Entretanto, a medida em que as fazendas de caf� paulistas se expandiam, eram for�adas a absorver, sobretudo nas frentes pioneiras, colonos imigrantes estrangeiros, que tendo em conta a escassez de for�a de trabalho nessas regi�es, obtinham o direito de realizar cultivos intercalares de cereais (arroz, feij�o, milho, etc.), como pequenos produtores independentes, al�m dos sal�rios referentes aos cafezais. Estas rela��es de trabalho permitiram uma distribui��o de rendas tal que dava margem a uma pequena acumula��o por parte desses colonos e o surgimento nas cidades vizinhas de uma pequena produ��o mercantil destinada a atender suas necessidades, que constituiu o ponto de partida de numerosas pequenas ind�strias paulistas em Limeira (m�quinas agr�colas), Franca (cal�ados) e muitas outras cidades.

������� A primeira guerra mundial marcou em S�o Paulo uma grande virada econ�mico-social: as exporta��es de caf� ca�ram de � 46,4 milh�es em 1912 para � 19,0 milh�es em 1918, arrastando muito grandes fazendeiros �crise. Paralelamente cresceram as exporta��es de feij�o (55 mil toneladas em 1918), de arroz (22 mil toneladas em 1917), etc., produzidos principalmente pelos colonos de caf�[89] e assim "durante a conflagra��o europ�ia de 1914-18 as velhas regi�es do Estado, impossibilitadas de vender as colheitas cafeeiras a pre�os remuneradores, apresentavam a extravagante anomalia econ�mico-financeira de fazendeiros empobrecidos e colonos enriquecidos; a alta dos pre�os dos cereais favoreceu sobremaneira aquela situa��o"[90].

������� Assim sendo, as duas primeiras d�cadas do s�culo XX marcaram em S�o Paulo a acelera��o do crescimento industrial, pela multiplica��o gigantesca das iniciativas empresariais, gra�as � din�mica e numerosa pequena produ��o mercantil, e assim da concorr�ncia, que explica porque representando 16,5% do parque industrial brasileiro, S�o Paulo dispunha de 72,2% da pot�ncia el�trica industrial em 1907, distanciando-se tecnicamente dos demais produtores, inclusive do Rio de Janeiro. Este processo correspondeu � ascens�o de parte dos colonos de caf� � condi��o de pequenos propriet�rios rurais e dos empres�rios industriais imigrantes (comerciantes de importa��o, numerosos pequenos capitalistas, etc.) � hegemonia da transi��o ao capitalismo moderno, paralelamente � decad�ncia da aristocracia tradicional paulista da condi��o de empres�rios industriais e grandes propriet�rios rurais at� ent�o dominantes. Em 1935, num levantamento oficial que abrangeu 714 empresas industriais paulistas, 72,9% detinham origem n�o luso-brasileira[91].

������� As coloca��es que acabamos de fazer entram em choque com as teses muito freq�entes segundo as quais a industrializa��o paulista esteve ligada basicamente � transfer�ncia de capitais da cafeicultura � ind�stria[92]. Mesmo analistas de esquerda confundiram a quest�o das rela��es sociais ligadas � industrializa��o, quando se negaram a encarar de frente o papel da imigra��o no processo, com receio de resvalarem na ideologia do "self made mal"[93]. Entretanto os levantamentos estat�sticos de E. Willems datados de 1950 e de L.C. Bresser Pereira datados de 1962, ambos referentes a metr�pole paulistana, mostram a insignific�ncia da contribui��o dos fazendeiros de caf� ao processo de industrializa��o[94]. Como explicar a �nfase, sempre reiterada no papel dos fazendeiros, visivelmente pequena? A medida em que esta classe social entrou em decad�ncia econ�mica no in�cio do s�culo XX e sobretudo durante a primeira guerra mundial, para preservar sua posi��o pol�tica hegem�nica at� 1930, e mesmo depois seus interesses crescentemente contestados, ela precisava compensar, mantendo viva e intacta sua imagem de dinamismo e sua presen�a no campo pol�tico e das id�ias (Semana de Arte Moderna, passado bandeirante, PD, USP, etc.).

������� Na verdade, a n�vel de regionaliza��o do processo de industrializa��o, poderemos nos perguntar se n�o h�, � maneira da divis�o norte-sul na It�lia, outra semelhante no Brasil, que englobe na regi�o industrial din�mica a maior parte do Brasil meridional?

3. A revolu��o de 1930 e a industrializa��o brasileira

������� A revolu��o de 1930 teve rela��o direta com o per�odo depressivo do 3� Kondratieff (1920-1948) e com o fim da hegemonia industrial brit�nica e da economia agro-exportadora, inaugurando o per�odo de expans�o da economia nacional sob dinamismo pr�prio, que interessava tanto �s oligarquias rurais regionais voltadas ao mercado interno, como aos industriais que puderam acelerar o processo de substitui��o de importa��es[95].

������� A era de progresso que a reinser��o na DIT em meados do s�culo XIX havia proporcionado � economia brasileira, com a expans�o do setor agro-exportador, parecia se esgotar na d�cada de 1920-30. A queda do nosso com�rcio exterior durante a grande depress�o mundial iniciada em 1873, havia estimulado e tinha sido compensada pela substitui��o artesanal e manufatureira urbana de importa��es (cal�ados, chap�us, charutos-cigarros, m�veis, instrumentos de trabalho, etc.). Por outro lado, a manuten��o a partir de 1879 de tarifas altas sobre produtos importados, com finalidade basicamente fiscal, havia garantido o in�cio da substitui��o industrial de importa��es (tecidos), mesmo com o restabelecimento do com�rcio exportador ap�s 1885. Assim, a economia brasileira crescia tanto nas fases de expans�o, como de contra��o da DIT[96]. Com o grande crescimento das nossas produ��es para exporta��o nos fins do s�culo XIX e in�cios do XX e concomitante inelasticidade dos mercados das economias centrais, come�aram a ocorrer as primeiras superprodu��es, que deprimiam os pre�os, como no exemplo da safra de caf�, que saltou dos 2,6 milh�es de sacas em 1888 para os 8,0 milh�es em 1902, j� em grave crise que levou ao acordo de Taubat� (1906), visando a sustenta��o dos pre�os internacionais[97].

������� A pol�tica de sustenta��o dos pre�os do caf�, inaugurada pelo acordo de Taubat�, acabou tendo conseq��ncias no conjunto da economia brasileira, pois � medida que os pre�os eram sustentados: 1) tomavam-se empr�stimos no exterior, Inglaterra sobretudo, que o conjunto da economia brasileira tinha que pagar, 2) estimulava-se, involuntariamente, o aumento da produ��o e assim novas super-produ��es. Esta pol�tica, conjuntural inicialmente, passou a ser permanente a partir de 1926, com o governo Washington Lu�s, criando crescente oposi��o dos setores econ�micos e regi�es prejudicados[98].

������� A substitui��o de importa��es, que havia vencido o grande desafio da primeira guerra mundial, continuava avan�ando tanto no setor t�xtil, como em novas �reas. A Cia. Sider�rgica Mineira, logo adquirida pela ARBED, iniciava em 1921 a produ��o de a�o, que havia sido estimulado pelo grande aumento da produ��o de ferro gusa durante a guerra, assim como a Cia. Brasileira de Cimento Portland, com 70% de capitais canadenses, come�ava a produzir em 1926 em S�o Paulo[99]. Sob o est�mulo do aumento da produ��o de 1922-23, os industriais de tecidos de algod�o ampliaram suas instala��es e enveredaram nas �ltimas substitui��es de importa��es poss�veis no ramo, os t�xteis de luxo (felpudos, gobelins, etc.), mas foram surpreendidos em 1925-26 com as exig�ncias dos financiadores ingleses da pol�tica de sustenta��o do caf� de abertura do mercado brasileiro �s importa��es industriais, que acabaram provocando queda da produ��o interna[100].

������� Em S�o Paulo, durante a d�cada de 1920-30, processaram-se as maiores rupturas pol�ticas, com o aparecimento do Partido Democr�tico (1926) e da FIESP (1928), o primeiro rompendo com o PRP, que tinha a hegemonia pol�tica nacional e o segundo com a Associa��o Comercial e Industrial de S�o Paulo. O PD refletia descontentamento dos grandes cafeicultores que sofreram perdas durante as crises do in�cio do s�culo e da primeira guerra mundial e adotava uma postura anti-industrialista, tendo dado origem � UDN (1945), que reuniu setores agr�rios decadentes da economia cafeeira (S�o Paulo e Rio de Janeiro) e do a��car (Nordeste). A FIESP surgiu da necessidade dos industriais se desvencilharem do grande com�rcio importador paulista, do qual tinham sido uma dissid�ncia, pois se viam prejudicados pela pol�tica de importa��es patrocinada pelo governo central, decorr�ncia da sustenta��o do caf�. Enquanto a frente paulista ia se rompendo, o Rio Grande do Sul se unia em torno da pol�tica de valoriza��o do mercado interno. Com a crise mundial de 1929, o governo Washington Lu�s abandonou a pol�tica de sustenta��o de pre�os do caf�, para poder aumentar as exporta��es e assim acabou perdendo o apoio dos cafeicultores[101]. Em 1930 perderam o poder o grande com�rcio importador, a cafeicultura paulista e a ind�stria inglesa, que estavam em coaliz�o desde 1888-89, tendo ascendido o latif�ndio ligado ao mercado interno, a ind�stria brasileira e os bancos americanos, que foram solidificando sua alian�a nas d�cadas de 1930 e 40[102].

������� A oligarquia ga�cha, que liderava a alian�a vitoriosa, era autorit�ria-reformista, de forma��o ideol�gica positivista, conduziu um processo de moderniza��o pelo alto, a chamada via prussiana, como j� havia acontecido na segunda metade do s�culo XIX na Alemanha, It�lia e Jap�o. Do ponto de vista econ�mico, em primeiro lugar, o poder vitorioso retomou a pol�tica de sustenta��o do caf�, j� que a superprodu��o caracterizou o mercado at� 1943-44, garantindo a manuten��o da renda da cafeicultura. Mas no lugar da sustenta��o beneficiar basicamente o setor, ela teve em vista os interesses globais da economia, pelo caminho do controle, o que passou a permitir o uso seletivo das divisas, em dire��o �s importa��es "essenciais" e em detrimento das importa��es "sup�rfluas". O uso dos recursos nacionais e governamentais, visando acelerar a substitui��o de importa��es, passou a ser submetido a um m�nimo de planejamento, por �rg�os criados ap�s 30 como o Conselho Nacional de Pol�tica Industrial e Comercial, Conselho Federal do Com�rcio Exterior e Comiss�o de Planejamento Econ�mico, nos quais participaram industriais corno B. Simonsen, tomando posi��es contr�rias ao livre-com�rcio, a favor do protecionismo e do planejamento[103]

������� Por outro lado, a substitui��o da Inglaterra pelos Estados-Unidos como poder hegem�nico externo n�o criou empecilhos insuper�veis � industrializa��o, pois o poder no capitalismo americano era mantido pelo setor banc�rio, mais do que pelo industrial ao contr�rio da Inglaterra onde os bancos subordinavam-se �s ind�strias[104], o que garantiu financiamentos durante a segunda guerra mundial �s companhias estatais nascentes (CVRD e CSN). Deve-se notar que antes de 1930, o Brasil mantinha rela��es internacionais triangulares, obtendo a maior arte das divisas dos Estados-Unidos (caf�) e gastando-as com importa��es de produtos industriais e financiamentos (caf�) ingleses. Assim, os Estados-Unidos n�o eram nossos grandes fornecedores de produtos industrializados, mas sim de derivados de petr�leo, e com isto a revolu��o de 1930 n�o afetou nitidamente seus interesses industriais[105]. J� na Argentina a situa��o se colocou de outra maneira: o peso do setor agro-exportador frente ao setor de mercado interno era muito maior do que no Brasil e se voltava para o mercado consumidor ingl�s. Acabou reagindo defensivamente na d�cada de 30, prendendo-se numa DIT em processo de supera��o e assim sua substitui��o de importa��es tornou-se mais lenta do que a brasileira.

������� Com a crise mundial de 1929 a contra��o do com�rcio internacional brasileiro foi enorme: de �4,4B/ano/habitante no per�odo 1921-30, caiu para � 1,76 na d�cada 1931-40[106]. O novo pacto de poder criado em 1930 tratou de acelerar o processo de substitui��o de importa��es: 1) usando seletivamente os recursos cambiais, como j� se sublinhou, 2) retirando as barreiras fiscais internas entre as unidades estaduais, 3) financiando a produ��o por interm�dio do Banco do Brasil, colocado sob a dire��o dos industriais, como na amplia��o das empresas Klabin (papel), Pignatari (cobre) etc., 4) instituindo reservas de mercado, como no exemplo do carv�o, obrigando o uso obrigat�rio de 10% (1931) e depois de 20% (1937) do produto nacional sobre o total consumido porcada usu�rio brasileiro, etc. A rea��o da industria � crise mundial, dada a capacidade ociosa existente em alguns ramos, foi imediata, assim como se consolidou nos anos seguintes aos est�mulos da conjuntura e governamentais. A produ��o de carv�o mineral aumentou de 27% de 1930 a 1931, a de tecidos de algod�o aumentou de 30% e a de cimento aumentou de 95%[107].

������� Como uma das medidas mais eficazes de apoio � industrializa��o n�o se deve esquecer a pol�tica trabalhista, que foi capaz de enfraquecer as organiza��es oper�rias combativas e instituir sindicatos atrelados ao Estado autorit�rio paternalista. A experi�ncia em curso nas ind�strias "alem�es" do Rio Grande do Sul (Renner, por exemplo, onde havia trabalhado Lindolfo Collor), seguindo o modelo iniciado na Europa por Bismarck[108], foi a base emp�rica da nova legisla��o trabalhista[109]. Note-se que enquanto na Argentina, mesmo ap�s a crise mundial, a industrializa��o sofreu press�es pelo lado "direito" (agro-exportadores), como pelo lado "esquerdo" (organiza��es operarias combativas), no Brasil a revolu��o de 1930 conseguiu superar estas duas press�es limitantes � acumula��o industrial.

������� Com o avan�o da industrializa��o se acelerou a integra��o das economias at� ent�o fortemente regionais em torno de S�o Paulo. Na Amaz�nia, por exemplo, em contra��o enorme desde a crise da borracha da segunda d�cada do s�culo, ao lado da agricultura de subsist�ncia que se estendeu no interior dos seringais substituindo importa��es pela via da economia natural, a parte da produ��o comercial da borracha que sobreviveu � crise, passou a ser destinada �s ind�strias de pneum�ticos que surgiam no Rio de Janeiro e S�o Paulo, e, al�m disto, desenvolveram-se plantios de juta e de guaran� destinados �s f�bricas de sacos de juta e de refrigerantes localizadas igualmente no Sudeste[110].

Cita��es:


[1] Mayer, F. (1926) Agrarismo e industrialismo. Buenos Aires. Fritz Mayer foi o pseud�nimo de Oct�vio Brand�o, de tradi��o anarquista, que contribuiu desde 1922 para a implanta��o e crescimento do PCB e apontava a presen�a esmagadora de latifundi�rios no aparelho de Estado brasileiro na d�cada de 20 e a necessidade de reforma agr�ria para a industrializa��o.

[2] Simonsen R. (1973) Evolu��o industrial do Brasil e outros estudos. S�o Paulo: Cia. Ed. Nacional., EDUSP, edi��o organizada por E. Carone. Simonsen foi fundador da CIESP (1928) e da FIESP e o l�der industrial de maior prest�gio no Brasil nas d�cadas de 30 e 40.

[3] Prado Jr., C. (1945) Hist�ria do Brasil. S�o Paulo: Brasiliense, escrita originalmente para o Fondo de Cultura Econ�mica (M�xico).

[4] Rangel, I. (1957) Dualidade B�sica da Economia Brasileira. Rio de Janeiro: ISEB, cujas id�ias foram aplicadas por G. Paim (1957) Industrializa��o e Economia Natural. Rio de Janeiro: ISEB. Furtado, C. (1959) Forma��o Econ�mica do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fundo Cultura. Rangel e Furtado publicaram v�rios outros textos.

[5] Cardoso. F.H. (1960) �Condi��es sociais da industrializa��o de S�o Paulo�. Ver. Brasiliense n� 28, e Ianni. O. (1960) �Fatores humanos da industrializa��o no Brasil�. Ver. Brasiliense n� 30, procuraram apontar os fatores sociais da emers�o do mercado interno e dos capitais para a industrializa��o, pouco abordados por C. Furtado.

[6] Simonsen, R. Evolu��o Industrial do Brasil. Op. cit., p. 49.

[7] Gudin, E. & Simonsen, R.C. (1978) A controv�rsia do planejamento da economia brasileira. Rio de Janeiro: IPEA, 2� ed., introdu��o de C. Von Doellinger. O pensamento de Gudin representava os interesses dos comerciantes de exporta��o e importa��o, das oligarquias agroexportadoras e do capital industrial da Inglaterra, todos derrotados pela revolu��o de 30, que discordavam que se transferissem, via Estado, recursos para as atividades industriais nascentes no Brasil, enquanto R. Simonsen defendia os interesses dos industriais brasileiros.

[8] Prebisch, R. (1950) El desarrollo econ�mico de Am�rica Latina y algunos de sus principales problemas. Nova York: Cepal-ONU. Prebisch, alto funcion�rio do Banco Central da Argentina, desenvolveu suas id�ias nas d�cadas de 30 e 40.

[9] Furtado, C. (1976) A economia latino-americana. S�o Paulo: Nacional, 2� ed., p. 124.

[10] Mathias, G. (1983) O Estado Superdesenvolvido. S�o Paulo: Brasiliense, p. 139. Mathias faz a cr�tica da distin��o entre fatores externos e internos das industrializa��es dos pa�ses latino-americanos, considerando que ambos participam de movimento �nico que comp�e a economia mundial capitalista.

[11] Oliveira, F. (1981) A economia brasileira: cr�tica � raz�o dualista. Petr�polis: Vozes-Cebrap, 4� ed., p. 13. O autor faz perigosa cr�tica �s teorias cepalinas e dependentistas.

[12] Simonsen, R. Op. cit. e Furtado, C. Op. cit. Furtado apresentou v�rios cap�tulos sobre a economia cafeeira, no interior da qual se d� a g�nese da industrializa��o, mas n�o tem um cap�tulo espec�fico sobre essa g�nese, conforme lembrou Martins, J.S. (1979) O cativeiro da terra. S�o Paulo: C. Humanas, p. 98.

[13] Mantega, G. (1984) A economia pol�tica brasileira. S�o Paulo: Polis-Vozes, 2� ed., cap. IV e Breares Pereira, L.C. (1982) Seis interpreta��es sobre o Brasil. Rio de Janeiro: Dados, n� 3, p. 173 ss.

[14] Prado Jr., C. Op. cit., cap. Industrializa��o e Basbaum, L. (1957) Hist�ria Sincera da Rep�blica. Rio de Janeiro: Livraria S�o Jos�, cap. Desenvolvimento Industrial e Capitaliza��o.

[15] Cardoso, F.H. Op. cit. e Ianni, O. Op. cit.

[16] Dean, W. (1971) A industrializa��o de S�o Paulo. Difel, p. 41 e 108 e Pel�ez, C.M. (1972) Hist�ria da industrializa��o brasileira. Rio de Janeiro: APEC.

[17] Furtado, C. (1979) �Brasil: da rep�blica ao estado militar�. In: Brasil tempos modernos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3� ed.: o texto original foi publicado na Fran�a em 1967.

[18] Frank, A.G. �Desenvolvimento do subdesenvolvimento latino-americano�. In: Pereira, L. Urbaniza��o e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 3� ed.; publicado originalmente nos EUA em 1966.

[19] Evans, P. (1980) A tr�plice alian�a. Rio de Janeiro: Zahar.

[20] Mantega, G. Op. cit., cap. 5, sobretudo as id�ias de R.M. Marini, pr�ximas da 4� Internacional e dos geopol�ticos argentinos, como Guglialmelli, J.E. (1979) Geopol�tica del Como Sur. El Cid Editor, p. 142.

[21] Oliveira, F. Op. cit., p. 12-3, onde as coloca��es dependendistas de F.H. Cardoso e E. Faletto s�o distintas das de A.G. Frank e R.M. Marini.

[22] Salama, P. (1976) O processo de subdesenvolvimento. Petr�polis: Vozes, entre outros autores adota a categoria �semi-industrializados"� Note-se que, desde 1973, M. Santos refere-se `economia brasileira como industrializada subdesenvolvida. Espa�o e Sociedade. Petr�polis: Vozes, 1979.

[23] Roxborough, P. (1981) Teorias do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro, cap. 9, foi o primeiro a indicar as rela��es entre a teoria da depend�ncia e as tentativas de guerra de guerrilhas na Am�rica Latina, igualmente apontadas recentemente por F. Oliveira. Folha de S�o Paulo. 22/09/87.

[24] Castro, A.B. & Souza, F.E.P. (1985) A economia brasileira em marcha for�ada. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

[25] Banco Mundial. Relat�rio anual � 1986. Rio de Janeiro: F.G. Vargas.

[26] Rangel, I. (1957) Introdu��o ao estudo do desenvolvimento econ�mico brasileiro. Salvador: Univ. da Bahia, apresentou as primeiras cr�ticas � Cepal, expostas em debate em Santiago do Chile, 1954, com J. Ahumada, cujas id�ias foram publicadas depois. Teor�as y programaci�n del desarrollo econ�mico. Santiago: ILPES, 1967; Mantega, G. Op. cit. classifica, erroneamente Rangel como cepalino.

[27] Rangel, I. (1968) Dualidade b�sica... e o pref�cio a R. Losada Aldana. Dial�tica do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

[28] Singer, P. (1982) Desenvolvimento e crise. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3� ed. E Oliveira, F. Op. cit.

[29] Rangel, I. (1981) �Hist�ria da dualidade brasileira�. S�o Paulo: Rev. Econ.Pol�tica. n� 4.

[30] Rangel, I. (1985) Economia: milagre e antimilagre. Rio de Janeiro: Zahar.

[31] Rangel, I. Introdu��o... Cap.3 e Oliveira, F. op. cit., p. 12 e seguintes.

[32] Vilar, P. Ouro e moeda na Hist�ria: 1450-1920. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, Cap. XVI e XVII discute as conseq��ncias negativas do ouro colonial no desenvolvimento capitalista da Espanha.

[33] Formula��o cl�ssica de Marx sobre o per�odo mercantilista.

[34]Wallerstein, I. The modern world-system. N. York: Academic Press, 1974. Poder�amos dizer, apoiados em P. Vilar, discordando de I. Wallerstein e A.G. Frank, que os imp�rios coloniais ib�ricos foram feudais, enquanto o Imp�rio Ingl�s j� nasceu capitalista no s�culo XVII.

[35] Rangel, I. Dualidade b�sica... Cap. 1 e 2 e Pref�cio...; Novais, F. Estrutura e Din�mica do Antigo Sistema Colonial. S�o Paulo: Cadernos CEBRAP 17, 1974.

[36] Sweezy, P. Capitalismo moderno. Rio de Janeiro: Graal, 1977, p. 131 e seguintes.

[37] Hobsbawm, E. As origens da Revolu��o Industrial. S�o Paulo: Global, 1979. A crise geral de economia europ�ia no s�culo XVII.

[38] FRANK, A.G. Acumula��o mundial - 1492-1789. Rio de Janeiro: Zahar, 1977, p. 122 e seguintes; HUMBOLDT, A. Essai politique sur le royaume de la Nouvelle Espagne.Paris: Lib. J. Renouard, 2.ed. 1827. Humbold visitou em 1803 a cidade de Queretaro, no M�xico, onde assinalou a exist�ncia de 20 grandes manufaturas t�xteis e 300 pequenas, que transformaram naquele ano 970 toneladas de l� bruta, al�m da gigantesca manufatura real de cigarros, que empregava 3.000 pessoas, das quais 900 mulheres, conforme Cap. XII do livro V. Deve-se lembrar que na Espanha a manufatura real de cigarros localizava-se, na mesma �poca, em Sevilha, num pr�dio t�o grande, que abriga hoje a Universidade.

[39] MAGALH�ES GODINHO, V. Le Portugal, les flottes du surce et les flottes de l�or. In: Serr�o, J e Martins, G. Da ind�stria portuguesa. Lisboa: Horizonte, 1978, p. 223 e seguintes, onde aponta as depress�es comerciais de 1670-1690, 1716 e anos seguintes, 1769-1778, 1808-1826, 1834-1850 etc., as duas �ltimas ligadas aos ciclos longos industriais ingleses; VICENS-VIVES, J. Manual de hist�ria econ�mica de Espa�a. Barcelona: Ed. Vicens-Vives, 5.reed., 1979, Cap. 30 aponta, igualmente, rea��es manufatureiras na Catalunha no final do s�culo XVII, na mesma linha de Vilar, P. La Catalogne dans l�Espagne Moderne, tome I, Paris: Le Sycomore, 1982, p. 638 e seguintes; MARTINS, R.B. A ind�stria t�xtil dom�stica de Minas Gerais no s�culo XIX. In: 2� Semin�rio sobre a economia mineira. Diamantina: DEDEPLAR-UFMG, 1983, enfatiza a tend�ncia a auto-sufici�ncia artesanal na economia mineira da segunda metade do s�culo XVIII, discordando das coloca��es de C. Furtado (Forma��o...), que negou a rea��o end�gena.

[40] F. Engels em 1892 foi o primeiro a chamar a aten��o para a grande depress�o da segunda metade do s�culo XIX no pref�cio � segunda edi��o alem� de La situacion des classes laborieuses en Angleterre. Paris: Costes, 1933. M. DOBB analisou a referida depress�o em A evolu��o do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1973 (primeira edi��o inglesa de 1945), pp. 366-391, assim como outros economistas marxistas, mas foi N. Kondratieff em 1926 o primeiro a sistematizar e explicar os ciclos longos em Las ondas largas de la coyntura. Madrid: Revista de Occidente, 1946.

[41] RANGEL, I. O Brasil na fase �b� do 4� Kondratieff. In: Ciclo, Tecnologia e crescimento. Rio de Janeiro: Civiliza��o Brasileira, 1982, lembra a refer�ncia de Schumpeter aos ciclos como n�o sendo simples am�gdalas no corpo do capitalismo.

[42] NIVEAU, M. Hist�ria dos fatos econ�micos contempor�neos. S�o Paulo: Difel, 1969; MAURO, F. Hist�ria econ�mica mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

[43] NIVEAU, M. op. cit.; MAURO, F. op. cit.; BEAND, M. Hist�ria do capitalismo. S�o Paulo: Brasiliense, 1987.

[44] RANGEL, I. Dualidade b�sica... e Pref�cio a R. Losada Aldana...

[45] RANGEL, I. A hist�ria da dualidade brasileira. Rev. Econ. Pol., n� 4, 1981, p. 17 e seguintes.

[46] ROSTOW, W.W. The world economy, history and prospect. Univ. Texas Press, 1978, citado por BEAUD, M. op. cit., p. 312.

[47] BRUIT, H. Acumula��o capitalista na Am�rica Latina. S�o Paulo: Brasiliense, 1982, gr�fico 2, p. 50 e RANGEL, I. A hist�ria da dualidade... quadros I e II, p. 34.

[48]RANGEL, I. Dualidade b�sica... e a Hist. dualidade.

[49] Deve-se notar que as fases depressivas dos ciclos longos foram n�o s� no Brasil como tamb�m na pen�nsula ib�rica, Am�rica espanhola e outras regi�es per�odos de lutas sociais intensas, como a combina��o entre lutas de classes e lutas entre dissid�ncias regionais e o poder central em toda a Am�rica Latina de 1820 a 1850, conforme indicou para o Brasil I. RANGEL, I. A hist. dualidade...

[50] MURMIS, M. e PORTANTIERO, J.C. Estudo sobre as origens do peronismo. Cap. 1. S�o Paulo; Brasiliense, 1973; MAMIGONIAN, Armen. O processo de industrializa��o da Am�rica Latina: o caso brasileiro. S�o Paulo: Orienta��o USP n� 8, 1988.

[51] Jovellanos e Visconde de Cairu foram exemplos de �liberais�. JOVELLANOS, G.M. (1744-1811), pol�tico e economista espanhol, defendia o livre-com�rcio e exerceu grande influ�ncia da Am�rica espanhola. Cf. SILVA HERZOG, J. Antologia del pensamiento economico-social I, M�xico: Fondo de Cultura Econ�mica, 1963, pp. 280-290. L. Alam�n e Alves Branco foram exemplos de ministros protecionistas no M�xico e no Brasil da primeira metade do s�culo XIX. Deve-se notar que as id�ias protecionistas apareciam em todos os quadrantes em que se combatiam o dom�nio ingl�s, como mostra a publica��o em 1841 de �Sistema nacional de economia pol�tica�, de F. LIST.

[52] PANIKKAR, K.M. A domina��o ocidental na �sia. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; PRADO JR., C. Hist�ria econ�mica do Brasil. S�o Paulo: Brasiliense, 1945; HERRERA CANALES, I. El comercio exterior de M�xico: 1821-1875. M�xico: El Colegio de M�xico, 1977.

[53] O Banco de Avio funcionou de 1830 a 1842, tendo se constitu�do num banco estatal de desenvolvimento econ�mico. O per�odo 1837-1846 foi radicalmente protecionista, visando proteger as quatro f�bricas de tecidos de algod�o j� em funcionamento em 1837 e financiadas pelo referido banco, al�m de outras quatro em implanta��o. O n�mero de teares mec�nicos que em Puebla era de 60 em 1838, alcan�ou (540 em 1843) 1889 em todo o pa�s. POTASH, R.A. El Banco de Avio de M�xico. M�xico: Fundo de Cultura Econ�mica, 1959, cap. XI e XII.

[54] souza franco, B. Os Bancos do Brasil. Bras�lia: Ed. UnB, 1984, apontava em 1848 as �institui��es de cr�dito como o mais poderoso meio de aproveitar os capitais desempregados� visando fomentar as atividades econ�micas. A tarifa Alves Branco elevou os impostos sobre importa��es de 15% a 30%, cf. PRADO JR., C. op. cit.

[55] HERRERA CANALES, I. op. cit., p. 119; Exposi��o do Visconde de Mau� aos credores da Mau� & C. e ao p�blico. Rio de Janeiro, 1878, p. 8 e seguintes; a Real F�brica de Ferro S�o Jo�o do Ipanema foi fechada em 1860, recuperou-se durante a guerra do Paraguai para decair em seguida.

[56] BAIROCH, P. Commerce ext�rieur et d�veloppment �conomique de l�Europe au XIX�si�cle. Paris: Mouton, 1976; VILELA LUZ, N. A luta pela industrializa��o do Brasil. S�o Paulo: Alfa �mega, 1978, cap. 1 e 2.

[57] RANGEL, I. Dualidade b�sica... e A hist�ria dualidade.

[58] CARDOSO, C.F.S. Agricultura, escravid�o e capitalismo. Petr�polis: Vozes, 1979, cap. IV; BENCI, J. Economia crist� dos senhores no governo dos escravos. S�o Paulo: Grijalbo, 1977 refere-se ao �costume que praticam alguns senhores neste Brasil, os quais achando dificuldade em dar o sustento aos escravos, que os servem das portas a fora nas lavouras dos engenhos, lhes d�o em cada semana um dia, em que possam plantar e fazer seus mantimentos�, p. 58. ANTONIL, A.J. Cultura e opul�ncia do Brasil. Bahia: Livr. Progresso, 1955, faz refer�ncias semelhantes, p. 52.

[59] MARTINS, R.B. A ind�stria t�xtil dom�stica de Minas Gerais no s�culo XIX. In: 2� Semin�rio sobre a economia mineira. Diamantina: DEDEPLAR, 1983, p. 81.

[60] MAMIGONIAN, Armen. Inser��o de Mato Grosso ao mercado nacional e g�nese de Corumb�. In: GEOSUL, n� 1. Florian�polis: Ed. UFSC, 1986, p. 41 e seguintes; SANTOS, M. O Espa�o dividido. Rio de Janeiro: Livr. F. Alves, 1979.

[61] RANGEL, I. Dualidade b�sica... e PAIM, G. Industrializa��o e economia natural. Rio de Janeiro: ISEB, 1957.

[62] VILELA LUZ, N. op. cit., cap. 1.

[63] VON ESCHWEGE, W.L. Pluto Brasiliensis. Vol. II. S�o Paulo: Cia Ed. Nacional, p. 346 e seguintes; NIZZA DA SILVA, M.B. A primeira gazeta da Bahia: Idade d�ouro do Brasil. S�o Paulo: Cultrix, 1978, p. 81 e seguintes.

[64] RANGEL, I. A hist�ria dualidade... quadro I, p. 34.

[65] VILELA LUZ, N. op. cit., p. 23 e seguintes.

[66] SUZIGAN, W. Ind�stria brasileira: origem e desenvolvimento. S�o Paulo: Brasiliense, 1986, tabela 20, p. 384 e seguintes; PAULA, J.A. Dois ensaios sobre a g�nese da industrializa��o em Minas Gerais: a siderurgia e a ind�stria t�xtil. In: 2� Semin�rio... e CANABRAVA, A. O desenvolvimento da cultura do algod�o da prov�ncia de S�o Paulo (1861-1975). S�o Paulo, p. 275 e seguintes, assinalam o aparecimento e fracasso do primeiro estabelecimento industrial t�xtil em Minas Gerais e S�o Paulo respectivamente.

[67] SOUZA FRANCO, B. op. cit., cf. nota 24.

[68] RANGEL, I. A hist. dualidade..., p. 21.

[69] PAIM, G. op. cit., p. 27 e seguintes, onde se lembra que no Brasil durante o per�odo pombalino �esses tecidos grosseiros eram por demais baratos para suportar despesas de comercializa��o, muito altas, e n�o interessava a Portugal, por conseguinte, export�-los para a col�nia�.

[70] BUARQUE DE HOLANDA, S. Caminhos e fronteiras. Op. cit.; HILAIRE, A.S. Viagens...

[71] PAIM, G. op. cit.; MARTINS, R.B. op. cit. e PAULA, J.A. op. cit.

[72] PAULA, J.A. op. cit., p. 54; Martins, R.B. op. cit., p. 83 e seguintes.

[73] VON ESCHWEGE, W.L. Pluto Brasiliensis. 2� vol. S�o Paulo: Nacional, p. 436 e seguintes; PAIM, G. op. cit., p. 35 e seguintes; PAULA, J.A. op. cit., p. 21 e seguintes. O projeto do intendente C�mara abrangia duas grandes unidades sider�rgicas (S�o Paulo e Minas Gerais), que abasteciam o Brasil e exportariam para a Prata.

[74] RANGEL, I. A hist�ria dualidade... quadro I, p. 34; PAIM, G. op. cit., cap. 2.

[75] VILELA LUZ, N. op. cit., p. 27 e seguintes; e p. 35 sobre as �f�bricas nacionais�, a maioria das quais eram na verdade grandes manufaturas; Rangel, I. A hist�ria dualidade... p. 24 e 25.

[76] RANGEL, I. A hist�ria dualidade..., p. 24 e 25; PAIM, G. op. cit., cap. 2.

[77] RANGEL, I. A hist�ria dualidade..., p. 25; NOGUEIRA DA SILVA, M.R. Negro na rua. S�o Paulo: Hucitec, 1988, p. 34; SOARES, L.C. A manufatura na forma��o econ�mica e social escravista no Sudeste. Niter�i: UFF, 1988. Mimeo.

[78] SUZIGAN, W. op. cit., tabela 20; VERSIANI, F.R. Industrializa��o e economia de exporta��o: a experi�ncia brasileira antes de 1914. Rev. Bras. Econ. Vol. 34, n� 1, 1980, anexo 1; VILELA LUZ, N. op. cit., cap. 2.

[79] STEIN, S.J. Origens e evolu��o da ind�stria t�xtil no Brasil - 1880-1950. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1979, p. 35 e seguintes; CANABRAVA, A.P. O desenvolvimento da cultura do algod�o na prov�ncia de S�o Paulo (1861-1875). S�o Paulo, p. 175 e seguintes.

[80] SUZIGAN, W. op. cit., p. 148.

[81] MAMIGONIAN, A. Notas sobre os frigor�ficos do Brasil Central Pecu�rio. S�o Paulo: EPG n� 51, 1976; EISENBERG, P. Moderniza��o sem mudan�a. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

[82] SUZIGAN, W. op. cit., p. 122 e seguintes; Censo Industrial, 1907, p. 261.

[83] SUZIGAN, W. op. cit., p. 232 e seguintes; Censo Industrial, 1907, mapas estat�sticos da ind�stria fabril; CORREA DO LAGO, L.A. et alii. A ind�stria brasileira de bens de capital. Rio de Janeiro: FGV, 1979, cap. 2.

[84]STEIN, S.J. op. cit., p. 36.

[85] STEIN, S.J. op. cit., p. 41.

[86] STEIN, S.J. op. cit., cap. 6.

[87] PEREIRA DE MELO, M.C. M�quina e trabalho: um estudo das rela��es de trabalho na ind�stria t�xtil do Maranh�o (1940-60). Pernambuco: UFPE, 1983. Mimeo, p. 41 e seguintes; PASSOS SOBRINHO, J.M. Hist�ria econ�mica de Sergipe (1850-1930). Campinas, IFCH-UNICAMP, 1983. Mimeo, p. 119 e seguintes.

[88] CANABRAVA, A.P. op. cit., p. 275; PAIM, G. op. cit., p. 46; MAMIGONIAN, A. O processo de industrializa��o em S�o Paulo. BPG, n� 50, 1976 e seguintes.

[89] DENIS, P. Am�rique du Sud. Vol. I. Paris: A. Colin, 1927, p. 199; MANGONION, A. O desenvolvimento econ�mico do Estado de S�o Paulo. Rio de Janeiro: IBGE-BG n� 42, 1946.

[90] GIOVANETTI, B. Esbo�o hist�rico da Alta Sorocabana. S�o Paulo: Rev. Trib., 1943, p. 75.

[91] Anu�rio industrial 1970, p. 148, onde se v� que 18,6% do parque industrial paulista era eletrificado, contra apenas 5,4% na Guanabara; WILLENS, E. Brasil. In: The positive contribution by inmigrants. Paris: UNESCO, 1955, p. 129 e seguintes.

[92] FURTADO, C. op. cit.; DEAN, W. A industrializa��o de S�o Paulo. S�o Paulo: Difel, 1971, p. 41 e seguintes; CARDOSO DE MELLO, Z.M. Metamorfose da riqueza: S�o Paulo 1845-1895. S�o Paulo: Hucitec, 1986.

[93] IANNI, O. Fatores da Industrializa��o no Brasil. S�o Paulo: Rev. Brasiliense, n� 30, 1960.

[94] WILLENS, E. op. cit., p. 133; BRESSER PEREIRA, L.C. Origens �tnicas e sociais do empresariado paulista. S�o Paulo: Rev. Adm. Empr., junho 1964

[95] FAUSTO. B. A revolu��o de 1930. S�o Paulo: Brasiliense, 1970.

[96] Esta constata��o fundamental para a an�lise da hist�ria econ�mica brasileira � devida a I. Rangel - A hist�ria dualidade... e supera a discuss�o sobre crescimento maior ou menor da industrializa��o nos per�odos de maior ou menor inser��o na DIT, travada por C.M. Pal�ez - Hist�ria da Industrializa��o brasileira. Rio de Janeiro: APEC, 1972, ao criticar C. Furtado - op. cit.

[97]SIMONSEN, R. op. cit., p. 213.

[98] FAUSTO, B. op. cit., p. 19 e seguintes, baseado em A. Delfim Netto.

[99] PEL�EZ, C.M. op. cit., p. 141 e seguintes.

[100] Em 1922 produziram-se no Brasil 628,6 milh�es de tecidos de algod�o, que subiram a 939,8 em 1923 e ca�ram para 582,0 (1928) e 478,0 (1929), conforme Repert�rio Estat�stico do Brasil, quadros retrospectivos n� 1, IBGE, 1941, p. 39.

[101] FAUSTO, B. op. cit., p. 32 e seguintes; TRINDADE, H. Aspectos pol�ticos do sistema partid�rio, riograndense (1882-1937). In: Economia & Pol�tica. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979, p. 166 e seguintes.

[102] RANGEL, I. A hist�ria dualidade... op. cit.

[103] DINIZ, E. Empres�rio, Estado e Capitalismo no Brasil: 1930-1945. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978; GUDIN, E. e SIMONSEN, R. A controv�rsia do planejamento na economia brasileira. Rio de Janeiro: IPEA, 2.ed. 1978.

[104] RANGEL, I. A hist�ria dualidade... op. cit.

[105] RANGEL, I. Dualidade b�sica... op. cit., cap. 4 e 5.

[106] RANGEL, I. A hist�ria dualidade... op. cit., quadro I.

[107] Repert�rio Estat�stico do Brasil, op. cit., p. 20, 39 e 43.

[108] KENT, G.O. Bismark e seu tempo. Bras�lia: Ed. UnB, 1976; ROSAVALLON, P. La crise de l��fat-providence. Paris: Ed. Seuil, 1981.

[109] MUNAKATA, K. A legisla��o trabalhista no Brasil. S�o Paulo: Brasiliense, 1981; FAUSTO. B. Estado, trabalhadores e burguesia (1920-1945). S�o Paulo: Novos Estudos CEBRAP, n� 20, 1988.

[110] LOBATO CORR�A, R. A periodiza��o da rede da Amaz�nia. Rio de Janeiro: IBGE-RBG n� 3, 1987.

Como podemos caracterizar a industrialização brasileira antes da década de 1980?

A industrialização do Brasil é considerada um processo tardio, uma vez que teve início um século depois do surgimento das primeiras indústrias na Europa. As primeiras manufaturas foram abertas no território nacional durante o século XIX, mas foi somente a partir da década de 1930 que o processo ganhou força.

Como foi o processo de industrialização brasileira?

A industrialização no Brasil ocorreu de forma tardia por meio da política de substituição das importações no contexto de ocorrência da Primeira Guerra Mundial. Os capitais oriundos de cultivos agrícolas, com destaque para o café, foram primordiais para o desenvolvimento da indústria brasileira.

O que ocorreu com as indústrias a partir dos anos 1980?

Foi a crise fiscal do Estado brasileiro, manifesta na sua dificuldade em continuar financiando seus projetos industriais ao mesmo tempo em que financiava a expansão das indústrias privadas que acabou determinando a mudança de posição do grande empresariado industrial brasileiro.

Quais são os principais fatos do processo de industrialização brasileira?

De 1808 a 1930: surgem as primeiras atividades industriais com protecionismo econômico. 1844: criação da Lei Alves Branco. 1930: investimentos políticos no setor industrial e privado, com melhorias do setor de transportes. 1942 a 1947: implantação da Companhia Siderúrgica Nacional.